sábado, 18 de julho de 2020

INSISTO EM MINHA ANTIGA RENEGAÇÃO E DOU UM EXEMPLO



Carlos Nougué

Já há cerca de 10 anos reneguei TUDO quanto havia escrito anteriormente, quer para o blog Contra Impugnantes, quer em apresentações ou prefácios de livros, etc. (mas não em livros meus, porque só de dez anos para cá é que os publiquei). Isto se deve a que ainda não havia conhecido a obra do Pe. Álvaro Calderón e, portanto, ainda não o havia tomado por mestre, o que só se deu a partir de minha tradução de seu A Candeia Debaixo do Alqueire. Conhecendo tal obra, de um tomismo verdadeiramente vivo, veraz e fiel, tive de renegar meu passado tomismo por eclético e não raro heterodoxo, fruto de autodidatismo, coisa que hoje não hesito em condenar. (É claro que tal passado me permitia tomar o Pe. Calderón por mestre a partir tão somente do estudo de sua extensa obra, sem contato pessoal nem online com ele. Mas em si mesmo esse passado era condenável, repito-o, por eclético e não raro heterodoxo.) Pois bem, dou um exemplo disto: o prefácio ou apresentação que fiz do livro de Jorge Martínez Barrera A Política em Aristóteles e Santo Tomás, publicado pela editora Sétimo Selo e que eu também traduzira. Em tal apresentação, bem como em palestras que então dei no Rio de Janeiro, defendi entusiasticamente o livro. Mas hoje sei perfeitamente que a obra padece de certo e grave liberalismo (católico...) quanto às relações entre poder temporal e poder espiritual e quanto à compreensão da Política aristotélica, que o autor também vê com tais lentes liberais. Renego pois tudo quando escrevi e falei, há mais de dez anos, sobre este livro. Mas por que insisto agora naquela renegação geral e nesta renegação particular? Porque o Centro Dom Bosco relançou o livro com minha antiga apresentação. Atenção: não estou criticando o CDB, que adquiriu legitimamente da Sétimo Selo os direitos de publicar também este livro (incluída minha apresentação). Um dirigente seu até me ofereceu que eu revisasse a apresentação. Declinei a oferta por uma razão óbvia: não se trataria de revisão, mas de crítica aberta ao livro. Sem imputar pois nada ao CDB, sinto-me porém agora no dever de esclarecer publicamente minha atual postura com respeito à obra e à minha mesma apresentação. E baste aqui o dito.
Nota 1: Jorge Martínez Barrera é homem boníssimo, com quem desfrutei ótimos momentos durante sua estada no Rio de Janeiro para o lançamento da referida obra. Mas amigos, amigos, verdades à parte.
Nota 2: quando digo que tive (e tenho) o Pe. Calderón por mestre, não quero dizer que ele adira ao escrito em meus livros. Ele os possui, mas creio que não lê em português. Não sei, pois, que opinião teria sobre eles se os lesse. E eles são de minha inteira responsabilidade. É que sempre chega o momento de o pupilo entrar a voar com as próprias asas.