segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Questões acerca do artigo “As Duas Operações do Intelecto: uma Crítica a Maritain e a Outros Tomistas”


QUESTÃO 1 DO ALUNO

 

Após ler o artigo “As Duas Primeiras Operações do Intelecto: uma Crítica a Maritain e a Outros Tomistas”, restaram-me algumas dúvidas (não, evidentemente, quanto à justíssima crítica a Maritain).

I. A primeira é precisamente a que o senhor mesmo enuncia na entrada “observações”, na parte I, no parágrafo “Naturalmente, etc.,”, ou seja, se a obra única da primeira operação do intelecto é a definição, por que não estudá-la no âmbito da demonstração científica (Analíticos Posteriores).
Parece-me que a única solução conveniente é dizer que a definição que é obra da primeira operação do intelecto não é a mesma que a definição científica (gênero próximo e diferença específica), embora esta signo daquela, como o nome, pois:
a) Santo Tomás diz que o intelecto quase nunca erra, senão per accidens, em sua primeira operação, que consiste na formação da definição ou conceito quiditativo. Ora, se a definição consistisse em indicar o gênero próximo e a diferença específica, o dito seria falho, pois a maioria dos homens é incapaz de dar tal definição. Portanto, a definição que é obra da primeira operação não é a mesma que a definição científica.
b) No número 2 (f), Santo Tomás chama à obra da primeira operação verbo cordial. Ora, não convém chamar à definição científica verbo cordial. Logo...
c) A definição científica parece antes ser um signo exterior da definição interior. Do verbo cordial. Pois, com efeito, a voz ou palavra incomplexa é signo do verbo cordial (2b). Mas a definição científica e o nome incomplexo são convertíveis (“O homem é o animal racional/ O animal racional é o homem”). Logo...

RESPOSTA DO PROFESSOR

Questões gramaticais (1): A matéria da arte da Gramática


C. N.

Objeção. Diz-se na Suma Gramatical que a matéria da arte da Gramática é o ato da escrita. Mas, assim como a matéria da arte da Arquitetura, ou seja, a de fazer casas, são as pedras, a areia, o cimento, etc., assim também a matéria da arte da Gramática, ou seja, a de escrever formas linguísticas, é a tinta ou semelhante e o suporte material em que se aplicam. Por conseguinte, não é a própria escrita a matéria da Gramática.

Resposta. Diz Santo Tomás (em In Post. Anal., lect. 1, n. 1) que, “se do fato de que a razão raciocina sobre o ato da mão se inventou a arte da edificação ou a fabril, pelas quais o homem pode executar este tipo de atos fácil e ordenadamente, pela mesma razão é necessária uma arte que dirija o ato mesmo da razão, de modo tal que o homem proceda nele com ordem, com facilidade e sem erro”. Tal arte diretiva é a Lógica, que, assim, como diz o Padre Calderón (em Umbrales de la Filosofía, p. 230), toma o ato da razão como “certa matéria”   porque, com efeito, tudo o que é ordenado está para o que o ordena assim como a matéria está para a forma. Analogamente, ao ato da escrita toma-o a Gramática também como certa matéria. Se todavia se quer expressar a matéria das formas linguísticas escritas – o sujeito da Gramática  enquanto são formas artificiais, então tal matéria se constitui, por um lado, do suporte em que tais formas se inscrevem e, por outro, da tinta ou semelhante com que se inscrevem. Note-se, contudo, que tal suporte e a tinta ou semelhante já são, eles mesmos, formas artificiais.  
Se pois se considera a matéria desta arte do primeiro modo, ter-se-á a definição de Gramática dada na Suma Gramaticala arte diretiva da escrita [ou seja, do ato de escrever formas linguísticas] segundo regras morfossintáticas cultas, para que o homem possa transmitir suas concepções e argumentações com ordem, com facilidade e sem erro a outros homens distantes no espaço ou no tempo”.
Se porém se considera a matéria mesma das formas linguísticas escritas enquanto são formas artificiais, ter-se-á a seguinte definição de Gramática: a arte de escrever em certo suporte formas linguísticas segundo regras morfossintáticas cultas, para que o homem possa transmitir suas concepções e argumentações com ordem, com facilidade e sem erro a outros homens distantes no espaço ou no tempo. 
   Observação. Tem-se por suposto em ambas as definições que as formas linguísticas escritas são signos da fala.