C. N.
Ao contrário do que pretendeu provar Jacques Maritain em Art
et scolastique, as chamadas “artes do belo” (de que a música é talvez a
mais importante) participam de dupla ordem: a ordem da poiesis,
e a ordem da moral. Ora, não é difícil concluir que a segunda tem, com respeito
à primeira, razão de fim, e que, portanto, a primeira tem, com respeito à
segunda, razão de meio. Ademais, porém, a própria ordem da moral tem razão de
meio com respeito ao fim último do homem e de todo o universo ― Deus.
Logo, as “artes do belo” são, como todas as artes, meios de meio com respeito
ao fim último, e a este, portanto, também se ordenam essencialmente.
Ademais, a bondade ou a maldade de tudo na ordem da
moral são consideradas tais com respeito ao fim. Ora, como visto, também as
“artes do belo” se ordenam à vida moral, que por sua vez se ordena ao fim
último do homem. Logo, toda e qualquer obra das “artes do belo” que se desvie
ou faça desviar, de qualquer modo, da reta ordem moral e, pois, do fim último
será má, e o será na mesma medida em que deles se desviar ou fizer desviar.
Em outras palavras: embora, para ser boa, qualquer
obra das “artes do belo” necessite ser “poieticamente” ou “artisticamente”
conseguida, ela só será boa simpliciter se for boa também em
ordem ao fim. Tudo isso decorre de as “artes do belo” participarem das duas
ordens referidas, na ordenação referida.
É o que expressava Johann Sebastian Bach ao dizer:
“A música só tem por fim louvar a Deus e recrear a alma (dentro de justos
limites). Quando se perde isso de vista, já não pode haver verdadeira música, e
não restarão senão barulhos e gritos infernais” (em Pequena Crônica de
Anna Magdalena Bach).
E é o que tentaremos mostrar em todos os artigos de
A Boa Música.