CARTA ENCÍCLICA
VIGILANTI CURA
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XI
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS ARCEBISPOS,
BISPOS E DEMAIS ORDINÁRIOS
DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA,
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
BISPOS E DEMAIS ORDINÁRIOS
DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA,
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE O
CINEMA
Veneráveis Irmãos
Saudação e Bênção Apostólica
Elogio da “Legião
da decência”
1. Acompanhamos com vigilante
solicitude, como exige o Nosso ministério apostólico, cada obra dos venerandos
antístites e de todo o povo cristão; por isto Nos foi sumamente consoladora a
notícia de ter já sazonado frutos salutares e porfiar ainda mais ricas
vantagens aquela providente iniciativa, que fundastes há mais de dois anos e
cuja realização confiastes de modo especial à “Legião da Decência”, com o fito
de, qual santa cruzada, reprimir os abusos das representações cinematográficas.
2. Isso Nos oferece o ensejo, há
tanto tempo almejado, de externar mais amplamente Nosso parecer sobre este
assunto, relacionado tão de perto com a vida moral e religiosa de todo o povo
cristão. Antes de tudo Nos congratulamos convosco por ter esta Legião, guiada e
instruída por vós e apoiada pela valiosa cooperação dos fiéis, já prestado,
neste setor do apostolado, tão relevantes serviços; alegria tanto mais intensa
quanto, angustiados, registrávamos que a arte e indústria do cinema chegara,
por assim dizer, “em grandes passos fora do caminho”, ao ponto de mostrar a
todos, em imagens luminosas, os vícios, crimes e delitos.
I – O cinema
e a moral cristã
3. Cada vez que se Nos oferecia uma
ocasião propícia, consideramos ser um dever de Nosso altíssimo ofício
dirigirmo-Nos ao Episcopado e outros membros do Clero, e também a todos os
homens de reta e boa vontade, a fim de se preocuparem com este problema de suma
importância.
O cinema
precisa colocar-se a serviço do aperfeiçoamento do homem
4 . Já na encíclica Divini
illius magistri“, lamentamos “que tais
poderosos meios de divulgação, que podem ser, quando inspirados por princípios
sãos, de grande utilidade para a instrução e educação, são muitas vezes
desgraçadamente subordinados ao fomento dos instintos maus, à avidez do lucro”.
(A. A. S., 1930, p. 82). Em agosto de 1934, dirigindo-Nos, numa audiência, a
uma deputação da Federação Internacional do Trabalho da Imprensa
Cinematográfica, depois de ter mostrado a grande importância que esta espécie
de espetáculo tomou em nossos dias, e sua influência tão intensa, quer para
promover o bem, quer para insinuar o mal, lembrávamos que a todo custo se devia
aplicar ao cinema, para que ele não injuriasse e desacreditasse a moral cristã,
ou simplesmente a moral humana e natural, a regra suprema que deve reger e
regulamentar o grande dom da arte.
Toda a arte nobre tem como fim e
como razão-de-ser, tornar-se para o homem um meio de se aperfeiçoar pela
probidade e virtude; e por isso mesmo deve ater-se aos princípios e preceitos
da moral. E concluíamos, com a aprovação manifesta daquelas pessoas de elite –
ainda Nos é consolador relembrar – ser necessário tornar o cinema conforme às
normas retas, de modo que possa levar os espectadores à inteireza da vida e uma
verdadeira educação.
5. E ainda recentemente, no mês de
abril último, recebendo em audiência um grupo de delegados do Congresso
Internacional da Imprensa do Cinema, realizado em Roma, expúnhamos de novo o
gravíssimo problema e exortávamos com ardor todas as pessoas cordatas, não só
em nome da religião, mas também em nome do verdadeiro bem-estar moral e civil
dos povos, de envidar todos os esforços, de usar de todos os meios,
principalmente da imprensa, para que o cinema se torne cada vez mais um
elemento precioso de instrução e de educação, e não de destruição e de ruína
para as almas.
Necessidade
de diretrizes para a Igreja universal
6. Mas o assunto é de tal
importância, principalmente nas condições atuais da sociedade, que julgamos
necessário tratá-lo de novo, nesta carta, e desenvolvê-lo mais
circunstancialmente, traçando diretrizes que correspondam às necessidades
presentes, válidas não só para vós, Veneráveis Irmãos, mas também para todos os
Bispos do orbe católico. Com efeito, é mui necessário e urgente cuidar para que
os progressos da ciência e da arte, e mesmo das artes da indústria técnica,
verdadeiros dons de Deus, sejam dirigidos de tal modo à glória de Deus, à
salvação das almas, à extensão do reino de Jesus Cristo sobre a terra, que
todos, como a Igreja nos faz rezar, “aproveitemos os bens temporais de modo a
não perder os bens eternos”. Ora, facilmente todos podem verificar que os
progressos do cinema, quanto mais maravilhosos se tornam, mais perniciosos
foram para a moralidade e para a religião, e mesmo para a honestidade do Estado
civil.
Preocupação
dos próprios diretores da indústria cinematográfica
7. Os próprios diretores desta
indústria, nos Estados Unidos, reconheceram-no quando a esse respeito
confessaram sua responsabilidade perante os indivíduos e a sociedade. Em março
de 1930, por um ato livre, feito de comum acordo ratificado por suas assinaturas
e promulgado pela imprensa, tomaram o compromisso solene de proteger no futuro
a moralidade dos freqüentadores do cinema. Em virtude dessa promessa,
comprometeram-se expressamente a nunca exibir um filme que rebaixasse o senso
moral dos espectadores, que ferisse a lei natural e humana ou que mostrasse
simpatia pela violação da mesma.
Frustrados
estes esforços
8. No entanto, apesar desta prudente
determinação tomada espontaneamente, os responsáveis e os fabricantes de filmes
não puderam ou formalmente não quiseram submeter-se aos princípios a cuja
observância se tinham obrigado. Tendo este compromisso sido quase nulo e
prosseguindo a exibição do vício e do crime no cinema, todo homem probo, que
procura uma honesta diversão, vê-se as mais das vezes obrigado a ficar longe
destes espetáculos.
O exemplo
dos bispos dos E.U. “Legião da decência”
9. Nesta gravíssima situação,
Veneráveis Irmãos, fostes vós os primeiros a estudar o meio de defender contra
o perigo iminente as almas confiadas aos vossos cuidados; instituístes a “Legião
da Decência” como uma cruzada santa, fundada para reanimar enfim os ideais da
honestidade moral e cristã. Muito longe de vós esteve a idéia de prejudicar a
indústria do cinema; pelo contrário, vós a preservastes antes contra as ruínas,
às quais são expostas as formas recreativas que degeneram em corrupção da arte.
O apoio dos
católicos
10. Vossas diretrizes suscitaram a
adesão pronta e dedicada dos fiéis que dirigis. E milhões de católicos dos
Estados Unidos subscreveram os compromissos da “Legião da Decência”,
obrigando-se a não assistir a representações cinematográficas que ofendessem a
moral cristã e as regras de uma vida honesta. Podemos dizer com imensa alegria:
vimos o vosso povo colaborar em tão boa harmonia com os bispos na execução
deste programa, como jamais nestes últimos tempos Nos foi dado ver mais íntima
união entre ambos.
O apoio de
cristãos e de outros grupos
11. E não só os filhos da Igreja
Católica, mas distintos protestantes e ilustres israelitas e muitos outros aceitaram
a vossa iniciativa; uniram-se aos vossos esforços para dar ao cinema normas que
condigam com tão nobre arte e a moral. Conforta-Nos muito assinalar o sucesso
notável desta cruzada, pois que, segundo Nos foi referido, sob a vossa
vigilância e sob a pressão da opinião pública o cinema mostrou um progresso no
terreno moral. Crimes e vícios foram reproduzidos menos freqüentemente do que
antes; o pecado não foi aprovado e aclamado tão abertamente; não mais se
apresentaram de maneira tão impressionante falsas normas de vida ao espírito
impressionável e facilmente excitado da mocidade.
Resposta às
críticas
12. Embora em certos meios se tenha
predito que o valor artístico do cinema sofreria pelas exigências da “Legião da
Decência”, parece ter sucedido exatamente o contrário. Pois esta Legião deu
forte impulso aos esforços feitos para elevar cada vez mais o cinema a grande
nobreza de nível artístico, impelindo-o à produção de obras clássicas e a
criações originais de valor pouco comum.
13. Também os que colocaram seu
dinheiro na indústria cinematográfica não tiveram prejuízo com isso, como
alguns, sem provar com razões suficientes sua asserção, agouraram; pois não
poucos, que aborreciam o cinema por ofender a moral, recomeçaram a freqüentar
estes espetáculos, desde que se exibiram filmes com enredos que não desdizem
nem da probidade humana nem da moral cristã.
14. No começo da vossa cruzada,
Veneráveis Irmãos, dizia-se que estes esforços seriam de curta duração e seus
efeitos transitórios, porque, relaxando a vossa vigilância e a dos vossos
fiéis, os industriais voltariam a seu talante aos processos anteriores. É fácil
compreender por que alguns desejavam voltar às produções equívocas que excitam
as paixões inferiores e que proibistes. Enquanto a produção de figuras
realmente artísticas, de cenas humanas e ao mesmo tempo virtuosas exige um
esforço intelectual, trabalho, habilidade e também uma despesa grande, é
relativamente fácil provocar certa categoria de pessoas e de classes sociais
com representações que excitam as paixões e despertam os instintos inferiores,
latentes no coração humano.
Perseverar
no esforço iniciado e bem sucedido
15. Uma vigilância incessante e
universal deve convencer de vez aos produtores de que a “Legião da Decência”
não foi fundada para ter só uma curta duração, mas que, sob os auspícios dos
Bispos dos Estados Unidos, as diversões honestas do povo em qualquer tempo e
sob qualquer aspecto com todo empenho sejam salvaguardadas.
II. Influência do Cinema e Fiscalização
Necessidade
do lazer, mas sadio e moral
16. Não há negar que o recreio
corporal e espiritual, em suas múltiplas manifestações do progresso moderno,
tornou-se necessário para os que se cansam nas ocupações e cuidados da vida,
mas ele deve ser digno e por isto são e moral; deve elevar-se ao nível de fator
positivo de nobres sentimentos. Um povo que, em seus momentos de repouso, se
entrega a prazeres que ferem o pudor, a honra, a moral, divertimentos que
constituem uma ocasião do pecado, especialmente para a mocidade, corre o perigo
de perder sua grandeza e seu poder.
Importância
do cinema como divertimento
17. É indiscutível que, entre estes
divertimentos, o cinema adquiriu, nos tempos modernos, uma importância máxima,
por ter-se estendido a todas as nações. Não é necessário registrar que milhões
de pessoas diariamente assistem às representações do cinema; que se abrem
locais para semelhantes espetáculos cada vez em maior número, em meio de todos
os povos de alta cultura ou só meio civilizados; que o cinema se tornou a forma
mais popular de recreação, não só para os ricos, mas para todas as classes da
sociedade.
O poder de
influência do cinema
18. Não há hoje um meio mais
poderoso para exercer influência sobre as massas, quer devido às figuras
projetadas nas telas, quer pelo preço do espetáculo cinematográfico, ao alcance
do povo comum, e pelas circunstâncias que o acompanham.
A força da
imagem aliada à música
19. O poder do cinema provém de que
ele fala por meio da imagem, que a inteligência recebe com alegria e sem
esforço, mesmo se tratando de uma alma rude e primitiva, desprovida de
capacidade ou ao menos do desejo de fazer esforço para a abstração e a dedução
que acompanha o raciocínio. Para a leitura e audição, sempre se requer atenção
e um esforço mental que, no espetáculo cinematográfico, é substituído pelo
prazer continuado, resultante da sucessão de figuras concretas. No cinema
falado, este poder atua ainda com maior força, porque a interpretação dos fatos
se torna muito fácil e a música ajunta um novo encanto à ação dramática. Se nos
entreatos se acrescentam danças e variedades, as paixões recebem excitações das
mais perigosas, que avultam vertiginosamente.
O cinema
como lição de coisas
20. A cinematografia realmente é
para a maioria dos homens uma lição de coisas que instrui mais eficazmente no
bem e no mal, do que o raciocínio abstrato. É, pois, necessário que o cinema,
erguendo-se ao nível da consciência cristã, sirva à difusão dos seus ideais e
deixe de ser um meio de depravação e de desmoralização.
Os
malefícios dos maus filmes
21. É geralmente sabido o mal enorme
que os maus filmes produzem na alma. Por glorificarem o vício e as paixões, são
ocasiões de pecado; desviam a mocidade do caminho da virtude; revelam a vida
debaixo de um falso prisma; ofuscam e enfraquecem o ideal da perfeição;
destroem o amor puro, o respeito devido ao casamento, as íntimas relações do
convívio doméstico. Podem mesmo criar preconceitos entre indivíduos,
mal-entendidos entre as várias classes sociais, entre as diversas raças e
nações.
Os bons
filmes e seus frutos
22. As boas representações podem,
pelo contrário, exercer uma influência profundamente moralizadora sobre seus
espectadores. Além de recrear, podem suscitar uma influência profunda para
nobres ideais da vida, dar noções preciosas, ministrar amplos conhecimentos
sobre a história e as belezas do próprio país, apresentar a verdade e a virtude
sob aspecto atraente, criar e favorecer, entre as diversas classes de uma
cidade, entre as raças e entre as várias famílias, o recíproco conhecimento e
amor, abraçar a causa da justiça, atrair todos à virtude e coadjuvar na
constituição nova e mais justa da sociedade humana.
Aspectos que
esclarecem a força dos filmes:
a) exibidos para grandes
grupos
23. Estas Nossas observações são
tanto mais graves por falar uma representação de cinema não a pessoas
separadas, e sim a grandes reuniões, e isto em condições de lugar e tempo que
podem levar a um entusiasmo depravado, como também a um ardor ótimo; entusiasmo
que pode chegar a uma louca e geral concitação, que pela experiência tão bem
conhecemos.
b) em salas semi-obscuras
24. As figuras cinematográficas são
mostradas a pessoas sentadas em meia-escuridão e cujas faculdades mentais, e
mesmo forças espirituais, estão freqüentemente descontroladas. Não é necessário
ir longe para encontrar essas salas; estão em geral ao lado das casas, das
igrejas e dos grupos escolares, levando assim o cinema ao meio da vida a sua
influência suma e suma importância.
c) a sedução dos atores e
atrizes
25. As variadíssimas cenas no cinema
são representadas por homens e mulheres escolhidos sob o critério da arte e de
um conjunto de qualidades naturais, e que se exibem num aparato tão
deslumbrante a se tornarem às vezes uma causa de sedução, principalmente para a
mocidade. O cinema ainda tem a seu serviço a música, as salas luxuosas, o
realismo vigoroso, todas as formas do capricho na extravagância. E por isso seu
encanto se exerce com um atrativo particular sobre as crianças e os
adolescentes. Justamente na idade, na qual o senso moral está em formação,
quando se desenvolvem as noções e os sentimentos de justiça e de retidão, dos
deveres e das obrigações, do ideal da vida, é que o cinema toma uma posição
preponderante.
De fato,
geralmente a serviço do mal
26. E, infelizmente, no atual estado
de coisas, é geralmente para o mal que o cinema exerce sua influência. Quando
pensamos na ruína de tantas almas especialmente de moços e de crianças, cuja
integridade e castidade periga nas salas de cinema, vem à Nossa mente a
terrível sentença de Nosso Senhor contra os corruptores dos pequenos: “O que
escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe
pendurasse ao pescoço a mó que um asno faz girar e que o lançassem no fundo do
mar”. (Mt 18, 6 ). É uma das supremas necessidades
do nosso tempo fiscalizar e trabalhar com todo afinco para que o cinema não
seja uma escola de corrupção, mas que se transforme em um precioso instrumento
de educação e de elevação moral.
Preocupação
dos governos
27. Aqui lembramos com viva satisfação
que certos governos, preocupados com a influência do cinema no domínio moral e
educativo, criaram, por meio de pessoas probas e honestas, principalmente com
pais e mães de família, comissões especiais de censura, como também organismos
indicadores para a produção cinematográfica, orientando sua inspiração para
obras nacionais de seus grandes poetas e escritores.
Os bispos e
católicos dos outros países sigam o exemplo
28. Assim, se é sobremaneira
conveniente que vós, Veneráveis Irmãos, exerçais uma vigilância especial sobre
a indústria cinematográfica em vosso país, a qual por causa de seu vigoroso
desenvolvimento exerce grande influência nas outras partes do mundo, é também
dever dos Bispos de todo o orbe católico unirem-se para fiscalizar esta universal
e poderosa forma de diversão e de ensino, para fazer prevalecer como motivo de
proibição do mau cinema, a ofensa feita ao sentimento religioso e moral e a
tudo que é contrário ao espírito cristão e a seus princípios éticos, não se
cansando de combater tudo que contribui para enfraquecer ou extinguir no povo o
sentimento da decência e da honra. É um dever que compete não somente aos
Bispos, mas também a todos os católicos e a todos os homens honestos que amam a
dignidade e a saúde moral da família, da nação, e em geral da sociedade humana.
III. Meios de Vigilância e Censura
Vigilância
difícil quanto à produção dos filmes
29. Em que consiste, para o momento
presente, esta vigilância? O problema da produção de filmes morais seria
radical e felizmente resolvido, se fosse possível obter uma produção
cinematográfica, inspirada completamente nos princípios da moral cristã. Por
este motivo, não Nos cansaremos de louvar aqueles que se consagraram e se
consagrarão ao nobre intuito de elevar a cinematografia à função de educação
humana e às exigências da consciência cristã. Empreendam isto com a competência
de técnicos e não de meros diletantes, para evitar prejuízo de dinheiro e de
energia.
Necessidade
de vigiar os filmes que estão nas telas
30. Por ser, porém, como Nós bem o
sabemos, muito difícil organizar uma tal indústria, principalmente por motivos
de ordem financeira, e como, de outro lado, é necessário exercer influência
sobre todos os filmes para que não haja ação prejudicial, no que diz respeito à
religião, moral e sociedade civil, é necessário que os pastores de almas se
interessem pelos filmes que estão atualmente ao alcance do povo cristão.
Apelo aos
diretores, autores e atores católicos
31. Quanto à indústria dos filmes,
exortamos ardentemente aos Bispos de todos os países produtores, e
especialmente a vós, Veneráveis Irmãos, a fazer um apelo a todos os católicos
que de qualquer forma participam desta indústria. Eles devem pensar seriamente
nos seus deveres e nas responsabilidades que têm como filhos da Igreja; devem
usar de seu empenho para reproduzir nos filmes que produzem, ou que ajudam a
produzir, princípios sãos e morais. O número de católicos executores ou
diretores, autores e atores nos filmes não é pequeno, e infelizmente sua
influência na confecção dos filmes nem sempre foi de acordo com a sua fé e suas
idéias. Será dever dos bispos estimulá-los a fazer concordar sua profissão com
a consciência de homens respeitáveis e discípulos de Jesus Cristo. Aí, como em
todos os campos de apostolado, os pastores de almas certamente encontrarão
excelentes colaboradores nos que militam nas fileiras da Ação Católica, aos
quais nesta Carta Encíclica fazemos ardoroso apelo para que dêem seu concurso
sem tréguas e sem desfalecimento também a esta campanha.
Deveres dos
bispos
32. Periodicamente os bispos farão
bem em relembrar à indústria cinematográfica que, entre as preocupações de seu
ministério pastoral, está a obrigação de se interessarem por todas as formas de
diversão sã e honesta, porque são responsáveis diante de Deus pela moralidade
do povo, a eles confiado, mesmo quando se diverte. O ministério sagrado que
exercem força-os a dizer clara e abertamente que um divertimento impuro destrói
as fibras morais de uma nação. O que lhes pedem não diz respeito somente aos
católicos, mas a todo o público que freqüenta o cinema. Vós, em particular,
Veneráveis Irmãos, vós podeis procurar obter dos produtores de filmes este
fito, lembrando que eles, nos Estados Unidos, livremente se comprometeram a
tomar por si a grave responsabilidade que têm perante a sociedade.
33. Os bispos do mundo inteiro,
porém, devem esforçar-se para esclarecer os industriais do cinema, fazendo-os
compreender que uma força tão poderosa e universal pode ser dirigida utilmente
para um fim muito elevado, como seia o aperfeiçoamento individual e social da
humanidade. E não é só questão de evitar o mal. Os filmes nao devem somente
ocupar as horas vagas de lazer, mas podem e devem, por sua força magnífica,
ilustrar as mentes dos espectadores e dirigi-los positivamente para todas as
virtudes.
Indicações
práticas:
1.
compromisso anual dos católicos
34. Dada a importância da matéria,
julgamos oportuno traçar algumas indicações práticas. Antes de tudo, todos os
pastores de almas se esforçarão por obter dos fiéis que façam anualmente, como
os católicos dos Estados Unidos da América, a promessa de se absterem dos
filmes que ofendem a verdade e as instituições cristãs. Este compromisso pode
ser obtido de modo mais eficaz por meio da Igreja paroquial ou das escolas; e
para este fim os bispos reclamarão a diligente cooperação dos pais e das mães
de família, que têm, nesta matéria, graves deveres e responsabilidades.
Igualmente podem usar da imprensa católica, que mostrará, com afinco e
proveito, a importância desta santa cruzada.
2. boletins
regulares com a classificação dos filmes
35. A execução dessa promessa solene
requer que o povo conheça claramente quais os filmes permitidos a todos, quais
os filmes permitidos com reserva, quais os filmes prejudiciais ou positivamente
maus. Isto exige confecção de listas e sua publicação regular, em forma de
boletins, em que, a miúdo, se classifiquem os filmes em forma acessível a
todos.
36. Seria para desejar que se
pudesse formar uma lista para o mundo inteiro, porque a mesma lei moral está em
vigor para todos. Mas, como se trata de publicações que interessam a todos os
ramos da sociedade, sábios e ignorantes, ao povo e governos, o juízo sobre um
filme não pode ser o mesmo em toda parte. Realmente, as circunstâncias e formas
de vida variam em todos os países: não seria por isto prático estabelecer uma
só lista para o mundo inteiro. Se cada nação conseguir uma lista com a
classificação dos filmes, como indicamos mais acima, já se terá obtido em
princípio a direção desejada.
3. criação
de juntas nacionais e suas funções:
Produção e
classificação de filmes
37. Para este fim, é
imprescindivelmente necessário que os bispos criem, em cada país, uma Junta
Nacional permanente de revisão, que promova a produção de bons filmes,
classifique os outros e divulgue o julgamento ao clero e fiéis. Essa junta
seria, com grande proveito, ligada aos organismos centrais da Ação Católica,
que está, como é do conhecimento geral, na dependência imediata dos Bispos.
Esta obra revisora, para surtir os efeitos infalível e ordenadamente, deve, em
cada nação, representar uma unidade e ser administrada centralmente.
38. Naturalmente, por motivos
ponderosos, os Bispos, nas suas respectivas dioceses e por meio de sua comissão
diocesana, poderão aplicar critérios mais severos à lista nacional feita com
normas mais gerais, conforme as condições da sua região, mesmo vetando os
filmes já admitidos na lista geral pela razão de ter que estabelecer normas
válidas para toda a nação.
Organização
e coordenação de salas de cinema
39. Esta junta deve ter também a
incumbência de organizar salas de cinemas existentes na paróquia e nas
associações católicas, de maneira a garantir a essas salas filmes selecionados.
Devido à organização dessas salas que se tornam bons clientes para a indústria
cinematográfica, pode-se alcançar que essa indústria produza filmes
correspondentes completamente a nossos princípios, filmes, que serão depois
fornecidos não só às salas católicas, mas também a todas as outras.
40. Compreendemos que a instituição
de semelhante junta exige dos fiéis não poucos sacrifícios e despesas. Mas a
importância do cinema e a necessidade de proteger a pureza dos costumes do povo
cristão e a moralidade da nação inteira, exigem terminantemente essa despesa e
trabalho. A eficiência poderosa de nossas escolas, de nossas associações de
Ação Católica e mesmo do sagrado ministério está diminuída e posta em perigo
pela chaga dos maus cinemas, tão prejudiciais.
A
estruturação das juntas nacionais
41. A junta deve ser formada por
pessoas conhecedoras da técnica cinematográfica e bem firmes nos princípios
morais da doutrina católica; devem ser estas pessoas dirigidas por um padre
escolhido pelo bispo. Um acordo oportuno ou troca de informações entre os
centros dos diversos países poderão tornar mais eficaz e harmoniosa a obra de
revisão dos filmes, tomando na devida consideração as diversas condições e
circunstâncias. Só assim será possível conseguir, com o auxílio dos escritores
católicos, esta admirável unidade no sentir, julgar e agir.
Compreensão
e apoio dos bispos
42. Os centros devem inspirar-se
oportunamente não só nas experiências já adquiridas pelos Estados Unidos, mas
também nos trabalhos realizados pelos católicos do mundo inteiro. Se os membros
componentes destes diversos centros caíssem em erro, embora com as melhores
intenções, o que acontece com todas as coisas humanas, os Bispos tratarão, com
sua prudência pastoral, de reparar estes erros e ao mesmo tempo amparar quanto
possível a autoridade e estima dos referidos centros, reforçando-os com outros
companheiros de autoridade, ou substituindo os que se revelarem incapazes.
Frutos que
advirão da vigilância dos bispos
43. Se os bispos do mundo aceitarem
a responsabilidade para exercer esta vigilância onerosa sobre o cinema, do que
não duvidamos, pois conhecemos seu zelo pastoral, poderão fazer uma grande obra
para proteção da moralidade do povo nos momentos de repouso. Assim procedendo,
terão a seu favor a aprovação e a cooperação de todos os espíritos bem
formados, católicos e não-católicos; contribuirão para o progresso desta grande
potência internacional, que é o cinema, com a elevada intenção de promover o
melhor ideal e as regras de uma vida mais santa.
A bênção
apostólica
44. Para dar maior força a estes
votos que dimanam do Nosso coração paternal, inploramos o auxílio da graça
divina, como penhor da qual Nós vos concedemos, com efusão de nossa alma, a
vós, Veneráveis Irmãos, e a vosso clero e ao povo a vós confiado, a Bênção
Apostólica.
Dado em Roma, junto a S.
Pedro, dia 29 de junho, festa dos santos Apóstolos Pedro e Paulo, no ano de
1936, décimo quinto ano do Nosso Pontificado.
PIUS PP. XI