sábado, 2 de julho de 2022

As duas espécies de falácia predominantes no conservadorismo católico brasileiro

                                                                                                                     Carlos Nougué

1) A falácia da equivocidade. Exemplo: quer-se assimilar o “conhecimento por presença” de Olavo de Carvalho – que é antes de fulcro schellinguiano e guénoniano – a nada menos que a doutrina de S. Tomás! Qual é o truque? Tomar a própria expressão “conhecimento por presença” em Olavo e em Tomás como unívoca, quando em verdade é tão equívoca como chamar ursa ao animal fêmea e à constelação.

2) A falácia do corte e costura. Exemplo: quer-se passar a imagem de que S. Tomás teve a Hugo de São Vítor por mestre, apesar de que na Suma Teológica Tomás refuta a doutrina de Hugo relativa ao sacramento e o refere pouquíssimas vezes, enquanto em De veritate chama à sua doutrina sobre a beatitude, por um ângulo, herética – reduzindo-a à heresia do monotelismo (a que acarretou o anátema a Honório I) – e, por outro ângulo, ao menos temerária. Qual é então o truque? Simples: cala-se tudo o que não convenha à imagem pretendida, e amplificam-se migalhas de citações convergentes. Corte e costura, pois.

Observação: não raro essas duas espécies de sofisma andam de mão dada.

Pois bem, se eu fosse responder – como me pedem – a todos os casos de recurso a tais falácias ou sofismas, não faria outra coisa na vida, tal a quantidade com que brotam do solo infecto da internet. Verdadeira cornucópia de atentados à lisura científica, seu nome também é legião. Mas tudo tem seu tempo debaixo do céu: volte-se por favor a ler o programa de meu curso “Uma História Tomista da Filosofia”, e ver-se-á que tais ofensas à ciência não ficarão sem refutação – e refutação definitiva.