domingo, 22 de agosto de 2021

A queda do bolsolavismo

                                                                                                                         Carlos Nougué

 Todo o esquema bolsolavista está ruindo, enquanto os bolsolavistas, tentando salvar a própria pele, passam de fanfarrões a cordeirinhos lamurientos. Voltará ao poder a esquerda? Se voltar, sofreremos todos; no entanto, a culpa terá sido toda não só do tosco e estúpido Bolsonaro mas – e talvez sobretudo – de toda a hoste de seus ideólogos (OdC e olavetes. Donato e donatistas, IPCO, e outros que tais, incluindo não poucos tradicionalistas católicos), tão trapalhões e tão irracionais como o mesmo Bolsonaro. A negação do evidente – o pior dos pecados intelectuais – fez Bolsonaro e sua cloroquina ser atropelados pela pandemia; o liberalismo econômico fez Bolsonaro não obrigar os banqueiros, os grandes financistas e os grandes industriais a arcar, junto com o governo, com o ônus da crise da covid-19 e do necessário sustento dos economicamente mais frágeis, além de, sob a batuta imbecil de Paulo Guedes, tê-lo impedido de implementar um vasto plano de obras públicas para compensar as falências e as demissões galopantes; o liberalismo ideológico fez Bolsonaro descumprir a promessa de campanha de lutar a todo o custo contra a ideologia de gênero, que ao contrário ganhou mais e mais espaço sob seu governo; a incapacidade de entender o que é uma guerra justa, que supõe um exato exame da correlação de forças, fez Bolsonaro ver-se minado por atos bravateiros não só próprios, mas de um Allan dos Santos, dos 30... ops, dos “300” de Brasília e seus “mortíferos” rojões, etc.; a ausência da verdadeira moral, que reza, por exemplo, que mentir é sempre pecado, fez Bolsonaro, seus filhos, os olavetes e outros que tais incrementar uma idiota indústria de fake news, igualzinha à da esquerda, com, aliás, as consequências que estamos vendo agora; e a falta de um verdadeiro programa cultural e doutrinal que formasse a ampla base popular de apoio ao presidente base que se estreita cada vez mais fez Bolsonaro aliar-se a gente tão “impoluta” como Roberto Jefferson sob o aplauso de olavetes e de donatistas. Diante deste triste quadro, não nos cabe senão repetir com Pio XII: “Nós percebemos a numerosa classe daqueles que consideram os fundamentos especificamente religiosos da civilização cristã [...] sem valor objetivo [para os dias de hoje], mas gostariam de conservar o brilho exterior dela para manter de pé uma ordem cívica que não poderia passar sem tal. Corpos sem vida, acometidos de paralisia, são eles mesmos incapazes de opor qualquer coisa às forças subversivas do ateísmo” (Discurso à União Internacional das Ligas Femininas Católicas).