segunda-feira, 26 de outubro de 2020

ESTÁ CORRETO D. VIGANÒ AO DIZER QUE “O FIM DOS TEMPOS ESTÁ AGORA APROXIMANDO-SE DIANTE DE NOSSOS OLHOS”?

 

Carlos Nougué

 

Numerosas vezes já expressei publicamente minha grande admiração por D. Carlo Maria Viganò. É o único membro da hierarquia – além de D. Athanasius Schneider mas ainda mais vigorosamente que este – que já tomou o caminho de retorno à tradição (e não nos esqueçamos de que a crise da Igreja não terá solução senão com o retorno da hierarquia à tradição). Creio, porém, que ele ainda não superou de todo certo liberalismo que infecta o catolicismo norte-americano, razão por que na campanha presidencial vem apoiando a Trump de modo, digamos, acrítico. Naturalmente, há que apoiar a Trump nesta campanha. Se não a ele, a quem mais, senhores católicos liberais? A Biden? Ou a um voto nulo que favorecesse a Biden? Mas deveria tratar-se de apoio expressa e publicamente crítico, ou seja, a tão somente um “mal menor”. Por outro lado, ademais, acaba D. Viganò de dar uma estupenda entrevista a Life Site: “Archbishop Viganò sees evidence ‘that the end times are now approaching before our eyes’” (https://www.lifesitenews.com/blogs/archbishop-vigano-sees-evidence-that-the-end-times-are-now-approaching-before-our-eyes). É de tocar o coração de qualquer católico que não tenha perdido o senso da tradição. Quanto, porém, e data venia, a que a proximidade do fim dos tempos esteja bem diante de nossos olhos, tal é dito, parece-me, sem as devidas explicitações.

1) Antes de tudo, concedo perfeitamente que os dois sinais dados por Cristo para a proximidade do fim (apostasia das nações e abominação da desolação instalada no lugar santo) parece que já se cumpriram ou estão cumprindo-se. Mas insisto: é essencial este parece.

2) Depois, quando na Escritura se usa o termo “aproximação”, não se quer necessariamente dizer com isso que o acontecimento de que há aproximação já bata às portas. Porque, ainda que se considere que aqueles dois sinais dados por Cristo se referem a acontecimentos anteriores ao advento do último Anticristo, entre a morte deste e o fim dos tempos, todavia, decorrerá um tempo que é estrito segredo de Deus. Há múltiplas as opiniões ou hipóteses quanto a isto. Eu tendo a crer que será ínfimo. Mas pode ser de mil, dois mil anos, etc.

3) Ademais, é parte do mesmo segredo de Deus o tempo que decorrerá entre o cumprimento dos dois sinais dados por Cristo (se se considera que a "abominação" é anterior e não simultânea ao derradeiro Antricristo) e este. Com efeito, quanto tempo durará a atual sexta-feira da paixão da Igreja? Nada sabemos disto, igualmente.

4) É natural que os católicos queiramos a Parusia, a segunda vinda de Cristo, e a Jerusalém celeste final, sobretudo se estamos sob o grande sofrimento que nos causa a atual apostasia na Igreja. Mas devemos conter as ânsias de nosso coração e preparar-nos para o que venha, porque sempre devemos dizer a Deus: Seja feita a vossa vontade.

5) Além disso e por fim, como dizia S. Agostinho, erram os que queiram determinar, ainda que aproximadamente, o tempo do fim, quer afastando-o, quer aproximando-o em termos literais. Mas sobretudo erra aquele que o diz próximo em sentido literal, porque, se o faz e o fim não se dá proximamente em termos literais, isso pode abalar a fé de muitos.