quinta-feira, 30 de julho de 2015

Se a criatura em seu ser inteligível se confunde com a própria essência divina (em resposta a pergunta de aluno do curso A Existência de Deus e a Criação do Mundo – segundo Santo Tomás de Aquino)


PERGUNTA DO ALUNO

A criatura, por exemplo, a minha pessoa, preexiste na essência divina, ou seja, a criatura em seu ser inteligível se confunde com a própria essência divina? A criatura enquanto razão inteligível se confunde com a essência divina?


RESPOSTA DO PROFESSOR

Por partes.
1) Tudo quanto Deus pensa se identifica com ele mesmo. Em Deus, essência e ser, atributos e ideias são uma só e mesma coisa, porque Deus é absolutamente simples: sua essência é Ser.
2) Se assim é, e como tudo quanto existe ou é provém de ideias presentes na mente de Deus desde toda a eternidade, e como Deus é a própria eternidade, então tais ideias se identificam com Deus mesmo: são ele mesmo.
3) Mas atenção: você, eu, aquela árvore, essa pedra, este cão não somos Deus nem emanações da substância dele (isto seria panteístico), mas resultantes de ideias na mente de Deus, assim como uma catedral resulta de um projeto na mente do arquiteto mas não se identifica com este.

Insista-se: a ideia das coisas que são ou existem está presente na mente de Deus desde toda a eternidade e identifica-se com ele, com sua essência, etc. Mas as coisas mesmas ocorrem fora de Deus: têm verdadeira entidade, ainda que dependente da participação do ser por Deus. E nada impede que, conquanto o universo e seus entes estejam como ideia na mente de Deus desde toda a eternidade, não venham a ser senão no tempo: assim como um arquiteto pode ter hoje a ideia de uma catedral mas querer que ela só se construa dentro de, digamos, 15 anos.