sexta-feira, 17 de julho de 2015

O panteísmo (em resposta a pergunta de aluno do curso A Existência de Deus e a Criação do Mundo – segundo Santo Tomás de Aquino)


PERGUNTA DO ALUNO

Gostaria de ter a sua explicação para a seguinte afirmação encontrada no livro do Padre Edouard Hugon O.P.(Principes  de Philosophie - Les Vingt-Quatre Theses Thomistes), tradução EDIPUCRS. (As teses que dão origem à cosmologia tomista são as teses de VIII à XII: VIII e IX sobre a matéria e a forma; X sobre a quantidade; XI sobre o principio de individuação e XII sobre lugar.)
PERGUNTA:
Após apresentar as teses VIII à XII, o Padre Hugon afirma o seguinte: "ESSAS DOUTRINAS TOMISTAS SOBRE O HILEMORFISMO E SOBRE O PRINCÍPIO DE INDIVIDUAÇÃO SÃO A REFUTAÇÃO PEREMPTÓRIA AO PANTEISMO SOB TODAS AS SUAS FORMAS".


RESPOSTA DO PROFESSOR

Para o panteísmo em todas as suas formas, Deus e o universo são, de algum modo, uma só coisa, uma só substância (ainda no panteísmo brâmane ou vedista, no qual a alma dos homens ou atmã é uma fagulha de Brama, deus ígneo). Como porém o prova o aristotelismo-tomismo, o universo é composto de múltiplas substâncias efetivamente individuais, enquanto Deus, conquanto seja a Substância e o maximamente indivíduo, não entra no gênero das substâncias, porque, lembre-se, está acima de tudo, transcende a todas as séries, a todos os gêneros e espécies, a todo o universo.* No mundo sensível as substâncias são compostas de forma e de matéria, e precisamente são substâncias individuais pela composição hilemórfica: com efeito, são indivíduos graças à matéria assinalada ou delimitada pela quantidade, e são substâncias pela forma substancial que justamente a informa ou enforma. Mas, se se trata de verdadeiros indivíduos (você, eu, aquela estrela, este cão, essa árvore, etc.), então é impossível o panteísmo: porque o panteísmo supõe de algum modo que só exista uma substância individual – o deus-universo.

Observação. Uma das formas mais radicais de panteísmo deu-se na Idade Média, com a identificação de Deus com a matéria prima ou primeira.



* Como diz Santo Tomás, substância tem dois sentidos. Primeiro, substância é o que subsiste por si, o que implica a individualidade. Segundo, substância é o que está sob acidentes, ou seja, o que é suporte ou sujeito de acidentes. Ora, Deus não é sujeito de acidentes. Logo, conquanto subsista por si – e subsiste por si simpliciter ou absolutamente, enquanto os demais entes só o fazem secundum quid, por certo aspecto –, Deus não entra no gênero das substâncias.