segunda-feira, 6 de julho de 2015

Sobre a Hipótese Heterotrófica para o Surgimento da Vida

Carlos Nougué

Foi o biólogo e bioquímico russo Aleksandr Oparin (1894-1980) quem formulou a hipótese heterotrófica para o surgimento da vida. Eis a sequência desta hipótese.
1) Os gases da atmosfera primitiva – hidrogênio, vapor d’água, amônia e metano – foram submetidos a descargas elétricas das tempestades que se davam sobre a Terra e a uma intensa radiação ultravioleta vinda do Sol.
2) Nos oceanos primitivos se formaram compostos: aminoácidos, açúcares, ácidos nucleicos e ácidos graxos.
3) Estes compostos formaram os primeiros agregados de moléculas: os coacervados.
4) Interagindo entre si e com o ambiente, os coacervados evoluíram para formas mais complexas, uns agregados com membrana, ou seja, os primeiros seres vivos.
5) Tais agregados evoluíram até constituir as células primitivas. Como porém na atmosfera primitiva ainda não havia gás carbônico, os primeiros seres vivos não eram capazes de produzir alimento através da fotossíntese. Por isso, tais seres vivos eram heterótrofos – ou seja, que não produzem o próprio alimento. Tampouco havia oxigênio, razão por que tais seres vivos eram “anaeróbios” – ou seja, que não respiram oxigênio.
6) Os heterótrofos anaeróbicos, por serem fermentadores, liberaram gás carbônico na atmosfera de então.
7) Formado o gás carbônico, deram-se as condições para o surgimento dos seres autótrofos fotossintetizantes.
8) Em razão da reação de fotossíntese, os primeiros autótrofos liberaram gás oxigênio na atmosfera.
9) O oxigênio permitiu o surgimento dos primeiros heterótrofos aeróbios – ou seja, que respiram oxigênio. Tais heterótrofos eram ainda unicelulares.
10) Os unicelulares fizeram-se cada vez mais complexos, até transformar-se em pluricelulares, que acabaram por conquistar, depois de muitos milhões de anos, a Terra.

Esta é a hipótese, e hipótese anticientífica. O mais das vezes mera petição de princípio – como se pode ver, “explica” a evolução pela própria e suposta evolução –, é tão anticientífica como as correlatas hipóteses de Anaximandro e, sobretudo, de Empédocles (a de que as partes dos animais se teriam formado antes dos próprios animais). Quanto às supostas provas da teoria de Oparin – por experiências dos norte-americanos Stanley Miller e Harold Urey, por um lado, e de Sidney Fox, por outro, na década de 1950 –, resumem-se a isto.
Muller e Urey puseram num balão de vidro metano, amônia, hidrogênio e vapor d’água, e submeteram a mistura a aquecimento prolongado. Uma centelha elétrica de alta tensão cortava continuamente o ambiente onde estavam contidos os gases. Ao fim de certo tempo, comprovou-se o aparecimento de moléculas de aminoácidos no interior do balão.
Depois, Sidney Fox submeteu uma mescla de aminoácidos secos a aquecimento também prolongado e viu que reagiam entre si, formando cadeias peptídicas semelhantes às encontradas nas proteínas.

Pois bem, onde está a prova laboratorial do surgimento da vida, ou seja, do primeiro ente vivente? Como se juntaram tais cadeias para constituir ao fim de um misterioso processo o primeiro ente vivo? É impossível não ver, insista-se, que tais “provas” não são científicas. Volte-se aos itens 4, 7, 9 e 10 acima: como se deu o que ali se afirma? (Ressaltam-se estes itens tão só por serem ainda mais improváveis que os demais.) – As palavras “evolução” e “evoluir” são a única explicação, como já dito. São como palavras mágicas, que se pretendem substituir a uma verdadeira explicação científica.