sábado, 9 de janeiro de 2021

OS MODOS DE PREDICAÇÃO DO VERBO “SER”

                                                                                                                             Carlos Nougué

O verbo ser predica-se de dois modos:

secundum se (como em Pedro é), para expressar o ser em ato ou fato de ser;

ut adiacens, ou seja, quando se predica em conjunção com o nome predicado (ou, em linguagem gramatical: com o predicativo, como em Pedro é negro), para atribuir ao sujeito da proposição o expresso por esse mesmo nome.

No segundo modo, ademais, se se diz que o verbo ser não só é adjacente (por predicar-se conjuntamente com o nome predicado), senão que é terceiro, é tão somente porque constitui uma terceira dicção na proposição. Em outras palavras, o verbo ser de cópula e o nome que ele ajuda a predicar de um sujeito constituem um só e mesmo predicado, como aliás não poderia deixar de ser: com efeito, as proposições não podem dividir-se primeiramente senão em duas partes (sujeito e predicado).

Observação 1. Talvez na esteira do Comentário do Cardeal Caetano ao Peri Hermeneias, os tomistas costumam designar estes dois modos do verbo ser como, respectivamente, “de segundo adjacente” e “de terceiro adjacente”. Mas, antes de tudo, Santo Tomás de Aquino nunca usa a expressão “de segundo adjacente”. Com efeito, escreve o nosso Doutor em seu Comentário aos Analíticos Posteriores (l. II, lect. 1, n. 409): “Sicut autem in II Perihermeneias dicitur, enunciatio dupliciter formatur. Uno quidem modo, ex nomine et verbo absque aliquo apposito, ut cum dicitur homo est; alio modo, quando aliquid tertium adiacet, ut cum dicitur homo est albus” (destaques nossos). Depois, insista-se, adjacente diz-se do verbo ser enquanto adjacente ao nome predicado (ou predicativo, em linguagem gramatical), não enquanto adjacente ao sujeito.

Observação 2. Em Gramatica, tanto o verbo de cópula como o predicativo podem, por diferente ângulo, dizer-se núcleo de predicado (o primeiro, verbal, pelo ângulo do morfológico; o segundo, nominal, pelo ângulo do significativo). Como porém se atribuem conjuntamente ao sujeito, não pode evitar-se a conclusão direta de que se trata de um só predicado, digamos, “verbo-nominal”. Mais que isso, todavia: atendendo a que, antes de tudo, o verbo de cópula realmente liga um nome predicativo ao sujeito e, depois, a que o predicado de verbo de cópula + predicativo efetivamente difere dos demais, devemos chamá-lo, segundo a mesma tradição gramatical (e contra Evanildo Bechara), predicado nominal.

Observação 3. Voltando ao âmbito da Lógica, diga-se portanto que se deve fazer a seguinte distinção quanto às enunciações ou proposições:

• Proposições com o verbo ser:

absque apposito, ou seja, proposições de ser em ato ou de existência;

ut tertium adiacens, ou seja, proposições de terceiro adjacente. 

(Trecho de “A relação entre o verbo ser copulativo e o verbo ser com o sentido de ‘ser em ato’, segundo Santo Tomás de Aquino, in Estudos Tomistas – Opúsculos II.)