quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

“Dos Juízos dos Astros”, opúsculo de Santo Tomás de Aquino


Tradução
Carlos Nougué

Porque me pediste que escrevesse se é lícito recorrer aos juízos dos astros, e querendo satisfazer teu pedido, tratei de escrever o que nos foi transmitido sobre isto pelos sacros doutores.
Em primeiro lugar, portanto, é-te necessário saber que a virtude dos corpos celestes se estende a imutar [modificar] os corpos inferiores. Diz com efeito Agostinho, no livro V de Da Cidade de Deus: “não de todo absurdamente pode dizer-se que certos influxos sidéreos são suficientes só para diferenças dos corpos”. E assim, se se recorre aos julgamentos dos astros para conhecer antecipadamente efeitos corporais, como, por exemplo, tempestade e serenidade do ar, saúde ou enfermidade do corpo, ou abundância e esterilidade dos frutos, e coisas assim que dependem de causas corporais e naturais, parece não haver nenhum pecado. Pois todos os homens, acerca de semelhantes efeitos, se utilizam de alguma observação dos corpos celestes: assim, os agricultores semeiam e colhem em certo tempo, que se observa segundo o movimento do sol; os marinheiros evitam navegações no plenilúnio, ou no eclipse da lua; os médicos, com respeito às doenças, observam dias críticos, que são determinados segundo o curso do sol e da lua. Por isso não é inconveniente recorrer, segundo outras observações mais ocultas das estrelas, ao juízo dos astros com respeito a efeitos corporais.
É necessário todavia manter totalmente que a vontade do homem não está sujeita à necessidade dos astros; sem isso pereceria o livre-arbítrio: e, supresso este, nem se atribuiria ao homem o mérito das boas obras, nem se lhe atribuiria a culpa das más. E por isso todo cristão deve sustentar certissimamente que tudo o que depende da vontade do homem, como é o caso de toda e qualquer obra humana, não se sujeita à necessidade dos astros: e por isso se diz em Jeremias X, 2: “não temais os sinais do céu, como temem os gentios”.
Mas o diabo, para arrastar todos ao erro, imiscui-se em suas obras que têm respeito aos juízos dos astros. E por isso diz Agostinho em II [17] de Super Gen. ad litteram: “deve reconhecer-se que, quando coisas verdadeiras são ditas pelos astrólogos, são ditas por impulso de algo ocultíssimo, que ignorantes mentes humanas padecem: o que, como se faz para enganar os homens, é uma operação de espíritos imundos e sedutores, aos quais se permite conhecer coisas verdadeiras das coisas temporais”. E por isso diz Agostinho no livro II de De doctrina Christiana [II, 23] que semelhantes observações dos astros se relacionam a certos pactos tidos com os demônios. Mas o cristão deve evitar totalmente ter pacto ou sociedade com o demônio, segundo aquilo do Apóstolo em I Coríntios X, 20: “Eu não quero que vos torneis sócios dos demônios”. E assim deve ter-se por certo que é pecado grave recorrer aos juízos dos astros com respeito às coisas que dependem da vontade do homem.      

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Sancti Thomae de Aquino
De iudiciis astrorum

Quia petisti ut tibi scriberem an liceret iudiciis astrorum uti, tuae petitioni satisfacere uolens, super ea quae a sacris doctoribus traduntur, scribere curaui.
In primis ergo oportet te scire quod uirtus celestium corporum ad immutanda inferiora corpora se extendit. Dicit enim Augustinus V De ciuitate Dei Non usquequaque absurde dici potest ad solas corporum differentias afflatus quosdam sydereos peruenire. Et ideo, si aliquis iudiciis astrorum utatur ad prenoscendum corporales effectus, puta tempestatem et serenitatem aeris, sanitatem uel infirmitatem corporis, uel ubertatem et sterilitatem fructuum, et cetera huiusmodi que ex corporalibus et naturalibus causis dependent, nullum uidetur esse peccatum. Nam omnes homines circa huiusmodi effectus aliqua obseruatione utuntur celestium corporum: sicut agricole seminant et metunt certo tempore quod obseruatur secundum motum solis; naute nauigationes uitant in plenilunio, uel in lune defectu; medici circa egritudines creticos dies obseruant, qui determinantur secundum cursum solis et lune. Vnde non est inconueniens, secundum aliquas alias occultiores obseruationes stellarum, circa corporales effectus uti astrorum iudicio. 
Hoc autem omnino tenere oportet, quod uoluntas hominis non est subiecta necessitati astrorum; alioquin periret liberum arbitrium, quo sublato non deputarentur homini neque bona opera ad meritum, neque mala ad culpam. Et ideo certissime tenendum est cuilibet christiano, quod ea que ex uoluntate hominis dependent, qualia sunt omnia humana opera, non ex necessitate astris subduntur; et ideo dicitur Ier. x A signis celi nolite metuere que gentes timent.
Sed dyabolus, ut omnes pertrahat in errorem, immiscet se operibus eorum qui iudiciis astrorum intendunt ; et ideo Augustinus dicit in II Super Genesim ad litteram Fatendum, quando ab astrologis uera dicuntur, instinctu quodam occultissimo dici, quem nescientes humane mentes patiuntur; quod cum ad decipiendos homines fit, spirituum immundorum et seductorum operatio est, quibus quedam uera de temporalibus rebus nosse permittitur. Et ideo Augustinus dicit in II De doctrina christiana quod huiusmodi obseruationes astrorum referende sunt ad quedam pacta cum demonibus habita. Est autem omnino christiano uitandum pactum uel societatem cum demonibus habere, secundum illud Apostoli I Cor. x Nolo uos fieri socios demoniorum. Et ideo pro certo tenendum est graue peccatum esse, circa ea que a uoluntate hominis dependent iudicio astrorum uti.