terça-feira, 25 de novembro de 2025

Plano inicial do livro "Missão e Privilégios de Maria", de Carlos Nougué

Maria foi associada por Cristo à obra da nossa salvação, e merece de côngruo, como o dizem os teólogos, o que Cristo nos merece de condigno.”

São Pio X, Ad diem illud.

 

“Antes de [Santo Tomás], os Doutores escolásticos e os Santos Padres haviam descrito sob as mais nobres imagens e as cores mais vivas a grandeza e as glórias da Santíssima Virgem; haviam falado d’Ela com entusiasmo ardente, antes com o estilo poético e brilhante dos panegiristas que com a precisão rigorosa do raciocínio e as fórmulas exatas da ciência. Haviam sido cativados pelas esplêndidas belezas que se irradiam sobre Ela de cada uma das verdades reveladas; haviam visto nos dogmas religiosos matéria de riqueza inesgotável para a imaginação e para as criações da arte, ao mesmo tempo que um alimento fecundo para a investigação científica: e muito particularmente haviam encontrado estes caracteres no Mistério da Encarnação e da maternidade divina. Sendo Maria a Filha, a Esposa e a Mãe de Deus, reúne em si tudo o que é belo, grande e sublime, tanto na ordem da natureza como na ordem da graça: é por isso que exerce um império irresistível sobre o espírito e sobre o coração. Por isso teólogos austeros e graves como Tertuliano, Santo Ambrósio, São Jerônimo, Santo Agostinho e São João Damasceno se sentem como que arrebatados por este ideal de beleza, e se tornam de certo modo poetas assim que começam a falar das grandezas e dos privilégios da Virgem incomparável. O Marial do bem-aventurado Alberto Magno, escritor por outro lado tão sóbrio, ao celebrar as glórias de Maria na forma escolástica, escreveu antes uma espécie de poema em prosa que um tratado dogmático. É uma pintura com cores brilhantes dos privilégios corporais e espirituais de Maria, na qual as proposições doutrinais estão misturadas com multidão de questões acessórias,  inspiradas, é verdade, por uma fervorosa piedade, mas incompatíveis com as exigências do método rigoroso e grave da ciência teológica.

Isso não acontece com Santo Tomás. Não há dúvida de que a beleza ideal do caráter da Virgem Mãe de Deus encheu de entusiasmo sua alma tão impressionável; e tampouco pode pensar-se que haja faltado inspiração poética ao cantor imortal da Eucaristia, ao autor do Adoro te devote e do Pange lingua, para celebrar a Santíssima Virgem com os sublimes acentos da poesia. No entanto, em vão se procurariam nos escritos de Santo Tomás esses voos de imaginação, essas manifestações oratórias que abundam nas obras de seus contemporâneos: seu espírito eminentemente especulativo põe freio à imaginação e comprime a expressão do sentimento, e segue em seus estudos acerca da Virgem Maria o mesmo método que em seus demais trabalhos teológicos. Em nenhuma parte se mostra Santo Tomás menos panegirista, menos escritor místico e ainda menos poeta; senão que nesta matéria o encontramos um pensador sóbrio e exato, e um teólogo sério e profundo. Não se dirige à imaginação nem ao coração, senão que fala unicamente à razão: não lhe agrada o brilho das imagens, mas a clareza e a transparência das ideias. Não o vemos ocupado em questões ociosas ou sutis, mas em discussões que servem para esclarecer os pontos de doutrina fundados na palavra de Deus ou no ensinamento da Igreja, e é isto o que distingue a doutrina mariológica de Santo Tomás da de seus predecessores, e o que lhe dá sua incontestável  superioridade. O ensinamento dos Padres recebe dele uma forma precisa e rigorosa; segue-se com ele seu desenvolvimento progressivo, e veem-se aparecer seus sólidos fundamentos; e o que esses trabalhos dos Padres perdem em superfície, em brilho e em riqueza, ganham-no em profundidade, em certeza e em qualidade.”

Francisco Morgott O.P.,

La Mariología tomística 

Nota prévia. Este livro se fundará nos e/ou disputará sobretudo com os seguintes teólogos marianos: a) São João Crisóstomo; b) São João Damasceno; c) Santo Agostinho; d) São Jerônimo; e) São Bernardo de Claraval O.Cist.; f) Santo Alberto Magno O.P.; g) São Boaventura O.F.M.; h) Santo Tomás de Aquino O.P. (vide nosso proêmio); i) Duns Scot O.F.M. j)  São Bernardino de Sena O.F.M.; k) São Tomás de Vilanova; l) Cardeal Caetano O.P.; m) Francisco Suárez S.J.; n) Santo Afonso Maria de Ligório; o) São Luís Maria Grignion de Montfort; p) Francisco Morgott O.P.; q) Benedictus Henricus Merkelbach O.P.; r) Édouard Hugon O.P.; s) Garrigou-Lagrange O.P.; t) Gabriel M. Roschini O.S.M.; u) Pier Carlo Landucci.

Observação 1. Fundar-se-á também, é claro, na mesma Escritura, na liturgia e, antes de tudo o mais, no magistério autêntico da Igreja.

Observação 2. Nele se citarão abundantemente as múltiplas fontes respeitantes a Nossa Senhora.

Proêmio. O fim, a ordem e o caráter – essencialmente tomista – deste livro, e as dificuldades que supôs

Parte I. Preâmbulos

Capítulo I. Que é a mariologia

Dificuldades que resolver:

a) Se é ciência; e qual é seu sujeito.

b) Se é especulativa ou prática.

c) Se, como a Sagrada Escritura, deve valer-se de imagens poéticas.

d) Quais são as fontes (ou “lugares teológicos”) da mariologia.

e) Propriedades e método da mariologia.

f) Divisão da mariologia.

Capítulo II. Da vida de Maria Santíssima

Dificuldades que resolver:

a) Se, como o faz Santo Tomás com respeito a Jesus Cristo na Suma Teológica, à vida de Maria deve reservar-se questão à parte.

b) Por que os Evangelhos parecem tão parcos em informações sobre a Virgem Maria.

c) Se e em que medida se podem preencher as lacunas dos Evangelhos quanto à vida de Maria Santíssima com recurso à imaginação.

d) Das passagens neotestamentárias (especialmente quatro) concernentes à Virgem Maria em torno das quais disputaram e disputam Padres e teólogos.

Parte II. Missão materna de Maria Santíssima

Capítulo I. Eleição e predestinação de Maria Santíssima

Dificuldades que resolver:

a) Sua eleição e predestinação à maternidade divina e à glória suma.

Excurso 1. Que é a predestinação em geral

Excurso 2. Se a predestinação de Maria se deu em previsão de seus méritos

b) Se sua eleição e predestinação foi gratuita.

c) Se o nome Maria foi escolhido por Deus.

d) Se Cristo predestinou os eleitos do seio da Maria (contra São Luís Grignion de Montfort).

e) Se o Verbo se encarnaria ainda que Adão não tivesse pecado (contra Duns Scot, Suárez e Roschini).

Capítulo II. Maria, Mãe de Deus – a Theotókos (contra os racionalistas de todas as cores)

a) Se Maria Santíssima é mãe de Deus segundo relação real ou de razão.

b) Qual é a natureza da maternidade e a da paternidade em geral.

c) Causa eficiente da geração de Cristo.

d) Modo e momento da concepção de Cristo.

e) Se Cristo teve duplo nascimento e dupla filiação.

Excurso 1. A doutrina da animação diferida e a da animação imediata (contra São Bernardo, Santo Alberto Magno, São Boaventura e Santo Tomás, e ainda, por outro ângulo, Duns Scot)

Excurso 2. Da superioridade filosófico-teológica de Santo Tomás sobre todos os outros, mas contra o sectarismo das escolas e a “divinização” do mesmo Santo Tomás (vide o caso de Francisco Morgott O.P., e nosso livro Da Autoridade de Santo Tomás)

Excurso 3. Más consequências teológicas da doutrina da animação diferida

Excurso 4. Se, no momento da união hipostática e da infusão da plena ciência, terá sido necessário que Cristo tivesse o corpo já formado (posição própria e, ao que parece, contra todos os demais teólogos que se pronunciaram sobre o assunto)

f) Se a Anunciação se fez convenientemente por um anjo.

g) Grau de dignidade da Mãe de Deus.

h) Relações de Maria com a Santíssima Trindade como um todo e com cada uma de suas Pessoas.

i) Se o mais importante em Maria é a maternidade divina ou sua restante plenitude de privilégios e graças (contra os Salmanticenses, Vásquez e Suárez).

j) Se a plenitude de graças da Virgem Puríssima é superior ou inferior às graças de todas as outras criaturas juntas.

Capítulo III. Maria, a nova Eva e consorte do Redentor

a) O que chamo símbolo sintético (vide casos no Apocalipse).

b) Se o dito Protoevangelho anuncia de fato a Virgem Maria.

c) A Mulher vestida de sol com respeito à história e à Parusia.

Parte III. Privilégios de Nossa Senhora

Capítulo I. Da santidade da Virgem Maria

a) Da Imaculada Conceição (contra Santo Anselmo, São Bernardo, Pedro Lombardo, Alexandre de Hales, Santo Alberto Magno, São Boaventura, Santo Tomás, Egídio Romano, Enrique de Gante, Capréolo, Cardeal Caetano, muitos outros tomistas, por um lado; Baio, os jansenistas de Utrecht, os veterocatólicos, todos os protestantes, os cismáticos gregos e russos, os racionalistas, por outro lado; e os ultrapietistas e Rosmini, por outro lado ainda).

Excurso 1. Se tudo na Bula Ineffabilis Deus, de Pio IX, é dogmático

Excurso 2. Se de fato Santo Tomás negou a Imaculada Conceição (contra muitos tomistas)

Excurso 3. Se Duns Scot sustentou efetivamente a Imaculada Conceição; do verdadeiro e efetivo mérito seu quanto a esta (contra muitos scotistas, por um lado, e muitos tomistas, por outro); e da falsa disputa pública de Scot com tomistas em torno da Imaculada Conceição

b) Da concepção e gestação de Maria.

Excurso 1. Do desenvolvimento embrionário da Virgem Maria.

Excurso 2. Se Maria teve uso da razão desde sua concepção.

c) Se a Imaculada Conceição tem fundamento na Sagrada Escritura e na tradição divina.

d) Ainda das especiais relações de Maria Santíssima com a Trindade.

e) Se há razão ou necessidade intrínseca para a Imaculada Conceição.

f) Da complexa discussão em torno do débito próximo ou remoto.

Capítulo II. Da impecabilidade da Mãe de Deus

a) Se a impecabilidade de Maria se deve dizer simpliciter.

b) Dos erros, quanto a isto, de Lutero e Calvino, por um lado, e de Tertuliano, Orígenes, São Cirilo de Alexandria, São João Crisóstomo, Teofilacto e São Basílio, por outro lado.

c) Dos fundamentos escriturísticos da impecabilidade da Virgem Maria.

d) Se Maria Santíssima gozou de impassibilidade física.

Excurso. Se se pode falar, com Merkelbach, de tripla impecabilidade: metafísica, física e moral

Capítulo III. Se Maria foi imune à concupiscência ou fomes peccati

a) Das quatro sentenças acerca desta questão.

b) Se a Virgem Maria foi imune ao fomes peccati em ato primeiro e segundo ou só em ato segundo.

c) Se nos socorre nesta questão a Bula Ineffabilis Deus.

Capítulo IV. Da plenitude de graça de Maria Santíssima

a) Da plenitude de graça de Nosso Senhor Jesus Cristo.

b) Da diferença entre a união hipostática em Cristo e a maternidade divina de Maria.

c) A definitiva posição de Santo Tomás.

Excurso. Se se deve discutir a diferença entre plenitude de graça simpliciter possível e plenitude de graça na atual ordem da Providência

d) Se a plenitude de graça de Maria é absoluta ou somente relativa, ou melhor, segundo certo aspecto.

e) Da distinção entre plenitude de graça absoluta de eficiência e de influência; plenitude relativa de preeminência, de abundância e de redundância; e plenitude relativa de mera suficiência (examinar, ademais, a terminologia de Santo Alberto Magno, a de São Boaventura e a de Santo Tomás quanto a isto).

f) Maria e as graças habituais.

g) Maria e as graças quanto aos exercícios e aos frutos.

h) Da recepção dos sacramentos pela Virgem Maria.

i) Se em Maria houve, como o quer Santo Tomás, crescimento em três etapas da plenitude de graça.

Capítulo V. Da plenitude de graça de Maria em comparação com os anjos e os santos

“Quanto mais algo se aproxima de seu princípio em qualquer gênero, tanto mais participa do efeito desse princípio” (Santo Tomás).

a) Da graça como efeito e sinal do amor de Deus.

b) Se é provável que a graça inicial da Mãe de Deus tenha sido maior e mais excelente que a graça final dos anjos e dos santos em sua condição definitiva.

c) Maria Santíssima em comparação com todo o criado

d) Se diz algo a este respeito a Bula Ineffabilis Deus.

Capítulo VI. Do modo como e da causa por que Maria obrou naturalmente e sobrenaturalmente

Dificuldades que resolver:

a) De Nossa Senhora e as virtudes teologais.

b) Do exercício heroico e eminentíssimo das virtudes por Maria.

“Somente n’Ela estava a fé da Igreja durante aquele tríduo, e, enquanto todos vacilavam, Ela não perdeu nunca o que concebeu pela fé nem a fé que recebeu de Deus; e esperou com esperança certíssima a glória do Senhor ressuscitado” (São Bernardo).

“Eu sou a mãe do amor, do temor, da ciência e da santa esperança” (Eclesiástico).

c) A Virgem Maria e as virtudes morais.

Excurso. Do opúsculo De Spasmo B. Virginis Mariae, do Cardeal Caetano, e sua concordância com certos mandatos da Inquisição.

d) A Virgem Maria e os dons do Espírito Santo.

Excurso. Se, como o quer Santo Alberto Magno (no Marial), Nossa Senhora teve as virtudes morais à maneira da pátria, quanto aos atos, e à de via, quanto ao mérito, de modo mais perfeito que os viadores com respeito ao ato e que os compreensores com respeito ao efeito

e) Da ciência diretiva das virtudes em Maria.

Excurso 1. Da tripla ciência da natureza humana de Cristo

Excurso 2. Da ciência infusa dos anjos

f) Se as ciências tratadas nos dois últimos excursos competiram também a Maria Santíssima.

g) Da admissão da ciência per se infusa em Maria (Suárez, Hugon, et alii).

h) Da negação da ciência per se infusa em Maria (Gerson, Lépicier, et alli).

i) Da negação da ciência infusa per accidens em Maria (Santo Alberto Magno, Gerson, Lépicier, et alii).

j) Se a Virgem Maria teve durante a vida terrena, de qualquer modo, a visão beatífica.

k) Se a Virgem Santíssima teve ciência habitual per se infusa.

l) Se Nossa Senhora teve a ciência conatural adquirida com seus atos próprios.

m) Se e como se deu progresso na ciência de Maria.

n) Que coisas não se devem considerar piedosamente mas exageradamente na ciência de Maria.

o) Se a Virgem Maria esteve de algum modo sujeita à ignorância e ao erro.

p) Que é o mérito em geral

q) Do mérito como efeito do exercício das virtudes de Maria.

r) Mérito e aumento da graça em Nossa Senhora.

Excurso. Ainda do merecimento de côngruo e do merecimento de condigno; e de se há, como o quer, por exemplo, Pedro Arenillas O.P., outro mérito de condigno chamado ex condignitate, inferior ao primeiro mas superior ao simples mérito de côngruo  

s) Se Maria pôde merecer a graça da perseverança final.

t) Comparação entre o mérito de Maria Santíssima e o dos demais.

Capítulo VI. Da perfeição e da integridade corpórea de Maria Santíssima

Dificuldades que resolver:

a) Da complexão e beleza corpóreas de Maria Santíssima.

Excurso. Da comproporção do corpo à alma

b) Do corpo de Maria em comparação com o corpo de Eva.

c) Do Corpo da Virgem Maria enquanto Mãe de Deus.

d) Da virgindade de Nossa Senhora, em todos os sentidos.

e) Da virgindade corporal de Maria antes do parto (contra os judeus, os ebionitas, Cerinto, muitos anabatistas e os racionalistas), durante o parto (contra Tertuliano, talvez o Orígenes jovem, Joviniano e seus sequazes, protestantes como os socinianos, Beza, Bullinger, os racionalistas e os modernistas) e depois do parto (contra Helvídio, Eunômio, quase todos os protestantes, e os racionalistas); e se esta tripla virgindade é de fé.

f) Que dizem – e se o fazem – a Sagrada Escritura e os Padres quanto à tripla virgindade de Maria Puríssima.

g) Se a crença na virgindade de Maria remonta a algum mito pagão.

h) Se a pergunta da mesma Maria Santíssima: “Como será possível isto...?” nega o fato da virgindade.

i) Se falaram de maneira imperfeita acerca da virgindade no parto Santo Irineu, Santo Atanásio, Santo Epifânio, o mesmo São Jerônimo em certa altura, et alii.

j) Da Sagrada Escritura quanto à virgindade de Maria após o parto.

k) Se Maria foi a primeira mulher a fazer o voto de virgindade perpétua; e se este voto foi primeiramente condicionado (Santo Tomás) ou desde sempre absoluto (Scot, São Boaventura, Suárez).

l) Se é possível determinar o momento deste voto.

m) Se negam a virgindade de Maria pós-parto as duas seguintes passagens de Mateus (i, 18, 25): “Estando desposada Maria, sua mãe [de Jesus], com José, antes que convivessem, achou-se ter concebido do Espírito Santo...”; “E não a conheceu até que deu à luz seu filho primogênito”.

n) Quem são os “irmãos” do Senhor referidos no Evangelho.

o) Se apesar do voto de virgindade perpétua pôde Maria ter contraído verdadeiro matrimônio com José.

p) Do trânsito de Maria: se ela morreu (em sua chamada “dormição”) e foi ressuscitada para ser assunta aos céus em corpo e alma, ou se não morreu e foi assunta sem ter morrido.

q) Se, no caso de ter morrido, seu corpo padeceu alguma corrupção.

r) Se a Encíclica Munificentissimus Deus, de Pio XII, se inclina – como o querem Roschini e outros – para a assunção de Maria sem morte.

s) Se é correta quanto a isto a posição de Santo Tomás e de tantos tomistas: Maria não contraiu tais defeitos porque não teve a causa próxima deles, quer dizer, por débito ou em pena do pecado, pois não os padeceu por causa da culpa; teve-os tão somente pela causa remota, quer dizer, por necessidade física de sua natureza. Por isso, não houve em Maria débito moral da morte, mas sim necessidade física dela.

t) Se se podem conhecer as circunstâncias, incluídos o lugar e o tempo, da morte de Maria, se de fato ela morreu.

u) Se houve católicos que negaram a assunção de Maria antes da definição do dogma.

v) Se ainda resta qualquer dificuldade quanto à assunção de Maria aos céus depois do dogma definido por Pio XII.

w) Se se pode provar historicamente ou pela Escritura a assunção de Maria Santíssima.

x) Das razões teológicas da assunção da Virgem Maria.

y) Por que e em que sentido Padres como Santo Atanásio, Santo Ambrósio e Santo Agostinho atribuem a ressurreição gloriosa unicamente a Cristo; e se com isso negam sua conveniência a Nossa Senhora.

z) Da glória corpórea de Maria nos céus (primeira parte).

Capítulo VII. Da bem-aventurança e da realeza de Maria

Dificuldades que resolver:

a) Da bem-aventurança e glória da Virgem Maria comparadas à das dos outros beatos, incluídos os santos anjos.

b) Se Maria se encontra à destra do Filho.

c) Da glória corpórea de Maria nos céus (segunda parte), ou da redundância de sua glória espiritual em seu corpo.

d) Se Maria constitui nos céus, sozinha, uma ordem própria e suma (como o quer São Tomás de Vilanova).

e) Do reinado celeste de Maria Santíssima.

f) Se Maria é rainha de todo o universo; e, se o é, como o é.

Parte IV. Das prerrogativas de Maria com respeito aos homens

Dificuldades que resolver:

a) Se a Mãe de Deus é também nossa mãe adotiva e espiritual.

b) Se o magistério da Igreja sustenta infalivelmente a mediação e a corredenção de Maria. 

c) Da mediação de Maria em geral.

d) Se Maria é nossa corredentora, e, se sim, como e por que causas o é.

e) Da compaixão da Virgem Maria.

f) De sua intercessão diante de Deus como advogada nossa.

g) Se a Virgem Maria pode conseguir de Deus a eleição de almas não predestinadas de toda a eternidade.

h) Se e, em caso positivo, como Maria participa da aplicação das graças como fruto da redenção.

Excurso 1. Que é a graça; se é substância ou acidente.

Excurso 2. Se a graça é criada ex nihilo ou eduzida da potência obediencial de nossa alma.

i) Se Maria Puríssima pode dizer-se causa instrumental na aplicação das graças (como o querem Hugon e outros), se de fato participa em tal aplicação.

j) Se Maria pode conseguir de Deus a alteração de acontecimentos previstos ou programados pela Providência (vide o caso das bodas de Caná).

k) Se Maria é medianeira universal; Maria e os santos de antes de Cristo; Maria e as graças sacramentais; Maria e os anjos.

Excurso. Dos adversários da mediação da Virgem Maria, em especial o neomodernismo vaticano-segundo; e se a mediação e a corredenção de Maria diminuem em algo a mediação e a redenção de Cristo.

“A Redenção, ou seja, a ação redentora de Cristo, é: 1) principal, 2) suficiente por si mesma; 3) independente; 4) absolutamente necessária. Ao contrário, a Corredenção, ou seja, a ação corredentora de Maria, é: 1) secundária; 2) insuficiente por si mesma; 3) dependente ou subordinada; 4) hipoteticamente necessária” (Gabriel M. Roschini).

Parte V. De nossos deveres para com a Mãe de Deus

Dificuldades que resolver:

a)    Do culto à Virgem Maria.

b)    Do Rosário em especial.

c)     Se a devoção a Maria é indício ou causa de eleição ou salvação.


Parte VI. Maria Santíssima e os últimos tempos


Dificuldades que resolver:


a) As aparições marianas dos últimos séculos.


b) A profecia de Fátima.


c) Maria e a atual abominação da desolação instalada no lugar santo.


d) Maria e a Parusia.

Meu livro sobre Maria, e outras informações

sábado, 20 de setembro de 2025

Meu reino por um cargo – A ilusão católica a respeito da política moderna

     

     A falsa premissa

Uma quantidade não desprezível de católicos, nos dias de hoje, sonha com o momento em que terão uma quantidade considerável de parlamentares na Câmara dos Deputados, ou mesmo na tal da Presidência da República. Outros, que se acreditam menos iludidos, sonham com uma monarquia parlamentar.

Outra parte, por sua vez — especialmente aquela pertencente à Opus Dei — acredita que um tipo de ocupação à moda gramsciana (guerra de posições), como aquela que exercem especialmente no poder judiciário, poderia vir a surtir efeito (seja lá qual for o que desejarem).

Mas todos os católicos que desejam uma ocupação de posições nos centros de poderes modernos partem de uma falsa premissa. Essa premissa eu poderia formular de maneira muito simples e acredito que todos concordariam:

– (1) O poder político-partidário do Estado moderno é o centro de tomada de decisões da sociedade; e (2) quem estiver lá terá o controle das decisões de uma nação e portanto da sociedade; ergo (3) devemos desejar possuir esses lugares, pois somos católicos e queremos o Reino de Cristo.

Isso por si só move muitas pessoas a fazerem a campanha pelo tal do “mal menor” a favor de Jair Bolsonaro, ou pela deputada Cris Tonietto, fiel da Administração Apostólica de D. Rifán, ou por algum católico local para os cargos de vereador ou deputado estadual (ou algum federal caso você não for do Estado da Cris), etc.

O que é o Estado moderno

O Estado moderno não é a mesma coisa que a comunidade política medieval ou a pátria da Antiguidade. O historiador Jean de Viguérie observa algo interessante: antes da palavra pátria entrar na língua francesa, já existia o conceito de França:

«A palavra “pátria”, no latim medieval, e a palavra “patrie”, adotada pela língua francesa no século XVI, designavam a terra dos pais, o país de nascimento e educação. O amor à pátria — a palavra patriotismo ainda não existia — restaurou à França os deveres da piedade com as honras do respeito e da lealdade. A pátria era a França. A França era um ser moral dotado de virtudes. Os franceses frequentemente evocavam essas virtudes da França e queriam se mostrar dignos delas. Em caso de guerra, alguns deles concordavam em dar a vida. Mas nenhuma obrigação era imposta aos cidadãos comuns de morrer pela pátria a pedido do príncipe.»¹

Ora, se já existia uma noção de “França” anterior à noção de “pátria”, certamente essa noção referia-se ao simples exercício da política em seu sentido clássico, que é o exercício da prudência humana conforme a natureza, ou seja, a união de famílias em prol de um viver superior àquele da isolação: uma sociedade de sociedades onde havia um livre intercâmbio de convivências, experiências e um depósito de memórias, desejos e bens em comum. Era a “comunidade política” (e política aqui nunca é no sentido ‘política partidária’) que dividia suas tarefas conforme a natureza e os fins gerais que deve ter uma sociedade, ou seja: o exercício das virtudes e a aquisição da bem-aventurança eterna. A vida era relativamente simples e, apesar dos problemas inerentes à natureza humana, a chance de sucesso (leia-se salvação) era muito maior. Essa “comunidade política” não foi inventada por Aristóteles ou Santo Tomás: eles apenas descreveram esse fenômeno consequente da natureza humana (e, se consequente da reta natureza humana, algo querido por Deus).

Por outro lado, vejamos quais são os pontos-chave que definem o que é o Estado moderno nas palavras do professor de Ciências Políticas e Políticas Públicas, Patrick Dunleavy, da London School of Economics, Inglaterra:

«O Estado é um conceito complexo e multicritério. Na era contemporânea, refere-se a:

1. Um conjunto de instituições organizadas com um nível de conectividade ou coesão que justifica descrições resumidas de seu comportamento em termos “unitários”.

2. Operando em um determinado território espacial, habitado por uma população substancial organizada como uma “sociedade” distinta.

3. A “função socialmente aceita” dessas instituições é definir e aplicar decisões coletivamente vinculativas aos membros dessa sociedade (Jessop, 1990, p. 341).

4. Sua existência cria uma esfera “pública” diferenciada do âmbito da atividade ou tomada de decisões “privadas”.

Cada um desses Estados (conjunto de instituições) deve também:

5. Reivindicar soberania sobre todas as outras instituições sociais e efetivamente monopolizar o uso legítimo da força dentro do território em questão (Weber, 1948, p. 78).

6. Ser capaz de definir membros e não membros da sociedade e controlar a entrada e saída do território.

7. Fazer fortes reivindicações ideológicas/éticas para promover os interesses comuns ou a vontade geral dos membros da sociedade.

8. Ser aceito como legítimo por grupos ou elementos significativos da sociedade.

9. Comandar recursos burocráticos (Weber, 1968, pp. 212–226) para poder arrecadar impostos (Schumpeter, 1954) e ordenar os assuntos governamentais de forma eficaz, dados os custos de transação vigentes (Levi, 1988).

10. Regular substancialmente as atividades sociais por meio de um aparato legal e as atividades governamentais por meio de uma constituição.

11. Ser reconhecido como um "Estado" por outros Estados.»²

Aqui não se trata do Estado enquanto culminação natural do poder temporal, ou uma sociedade de sociedades funcionando como poder subsidiário que dá apoio às sociedades menores para que elas atinjam seu fim. Não. Trata-se, antes de tudo, de uma coesão de instituições burocráticas, ou melhor, de um consenso de instituições burocráticas que quer a todo custo impor sua visão leviatânica e indisputada sobre o todo da sociedade. É um grupo estabelecido, virtualmente inextirpável e dinástico de burocratas que manejam o Estado moderno para o rumo que querem dar. Poderíamos atribuir alguma ideologia a esse grupo, mas objetivamente o único objetivo deles é não sair de lá. Esses burocratas podem ser movidos ou até mesmo estar em intersecção com as oligarquias usurárias e as organizações secretas, mas em sua dureza de coração jamais aceitariam um “pária” católico, pois governam segundo a Cidade dos homens, e não a de Deus.

Tal é, em linhas gerais e muito resumidamente, o Estado moderno, ou, como se costuma chamar, o sistema. E por isso mesmo, diante disso tudo pareceria uma atitude pouco caridosa (para não dizer cruel) desejar jogar algum irmão católico em tal situação.

Fim.

(Assinado: Leonildo Trombela Júnior)

NOTAS

1 Jean de Viguerie, Les deux patries. Essai historique sur l’idée de patrie en France, Dominique Martin Morin, 2ª ed., Bouère, 2003, p. 11.

     2 Patrick Dunleavy, “The State”, em: Robert E. Goodin, Philip Pettit & Thomas Pogge (eds.), A Companion to Contemporary Political Philosophy, 2ª ed., Blackwell, 2007, p. 793.

FONTE: https://verbumfidelis.substack.com/p/meu-reino-por-um-cargo