quarta-feira, 30 de setembro de 2020

“TEÓLOGOS” OLAVETES – E UMA GRANDE NOTÍCIA

                                                                                                                               Carlos Nougué

 Não é que, recentemente, alguns ilustres “teólogos” olavetes passaram a referir o livro La liberté religieuse et la Tradition Catholique, do Fr. Basile O.S.B., que busca fundar a doutrina claramente herética do CVII sobre a liberdade religiosa na tradição da Igreja e especialmente em S. Tomás? Esse frade é (ou era) do mosteiro beneditino do Barroux, e seu livro, pretensamente muito erudito, tem a bagatela de 2.960 páginas. Parabéns, antes de tudo, a tais “teólogos” olavetes por o terem conseguido ler... Sucede, depois, todavia, que o Fr. Jehan, outro monge e sacerdote do mesmo mosteiro, publicaria em 2004 um memorial de Direito Canônico em que prova que a tese do Fr. Basile padece de um vício fatal: falsifica radicalmente a doutrina de S. Tomás sobre o Direito. “Apenas” isto! – Mas o que tão doutos “teólogos” olavetes nem sequer referem é que, se se trata de tradicionalismo mais profundo, antes de acusar o CVII e seus papas de cometer heresias, é preciso provar que segundo eles mesmos sua autoridade DOUTRINAL é nula, sem o que faltaríamos com a devida docilidade ao magistério da Igreja. (Diga-se, aliás, que os tradicionalistas que desconhecem isso contribuem, ainda que involuntariamente, para a confusão generalizada quanto a este árduo assunto.) Desafiei um de tais “teólogos” a que respondesse por escrito a meu opúsculo “As Diversas Correntes na Igreja Atual” (https://www.estudostomistas.com.br/.../as-diversas...) e a meu livro Do Papa Herético, nos quais mostro precisamente a nulidade doutrinal do magistério conciliar segundo ele mesmo. Continuo esperando-o, sentado... Mas, mais que a mim, desafio esses “teólogos” capazes de ler 3 mil páginas de um só livro a responder à segunda edição ampliadíssima (e com tradução minha e de Danilo Rehem) de A Candeia Debaixo do Alqueire, do Padre Álvaro Calderón, cuja pré-venda, segundo a editora Castela – alvíssaras! –, provavelmente começará ainda em outubro. Foi o Padre Calderón, o maior teólogo vivo (e muito mais), quem resolveu o enigma do CVII e do magistério conciliar, sem todavia perder a docilidade devida ao magistério da Igreja. Mãos à obra, portanto, senhores “teólogos” olavetes. Fico ainda esperando sentado, mas agora numa cadeira de balanço.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

CATOLICISMO OU ANARCOCATOLICISMO?

 

Carlos Nougué

 

O tradicionalista argentino Antonio Caponnetto mostra, uma vez mais, na conferência, “Contra la ‘Nueva Normalidad’, la Pedagogía del Ánimo”, para onde caminha essa corrente tradicionalista que acusa de ultraclericalismo calvinista a defesa intransigente da ordenação essencial do estado à Igreja: para um anarcocatolicismo. Na referida conferência, Caponnetto simplesmente nega ao estado a autoridade máxima em questões sanitárias. Pode ser que, por argentino, Caponnetto extrapole para o resto do mundo a situação de seu país, em que um tiranozinho se vale da crise sanitária para aprofundar a revolução. Mas isto está longe de ser verdade para a maior parte do mundo; e já vimos aqui a posição muito equilibrada de Roberto de Mattei quanto a isto.

Parece todavia que Caponnetto e seus pares se esquecem da lição de São Paulo e de São Pedro (respectivamente em Romanos 13, 1-7, e 1 Pedro, 2, 13-17) e de Santo Tomás (na Suma Teológica) sobre o dever de submissão do católico ao governante na esfera própria do estado (dever de submissão que, para S. Tomás, se estende até a leis iníquas mas não demasiado gravemente ofensivas da lei natural). Esquecem-se, ademais, que o magistério autêntico da Igreja afirmou e reafirmou que o estado é sociedade perfeita, e que a família não o é. Claro, resta explicar como pode ser que uma sociedade perfeita, o estado, deva ordenação essencial a outra sociedade perfeita, a Igreja, questão árdua que ocupará boa parte de meu “Da História e Sua Ordem a Deus” (que sairá como apêndice, longo, de meu Comentário ao Apocalipse). Mas diga-se desde já que a resposta se encontra, por um lado, no triplo modo como algo se pode dizer perfeito e, por outro lado, na absoluta gratuidade da graça e da beatitude eterna da parte de Deus – além, naturalmente, de na ordenada subordinação dos fins.

Mas diga-se desde já também que, se é verdade que, excetuadas talvez a Polônia e a Hungria, todos os demais estados atuais são em ilegítimos e em algum grau cadáveres de estado, também é verdade que isso não anula sua autoridade em questões como a sanitária, assim como um pai ateu não perde a autoridade sobre seus filhos quanto a assuntos estritamente domésticos. Que um católico como Caponnetto proponha o contrário é vergonhoso – e não dista muito do liberalismo e do anarcocapitalismo.     

Ainda sobre as relações entre o poder temporal e o espiritual


 Carlos Nougué

Se não aceitam a palavra deste que lhes escreve, senhores católicos bolsonaristas, nem a autoridade teológica do Pe. Calderón, aceitem ao menos a palavra de Cristo, do magistério autêntico da igreja, das Escrituras e da tradição sobre as relações entre estado e Igreja. Se não o fazem, pecam contra a fé. 

“Dizei às nações: O Senhor é rei. [...] / Jubilem todas as árvores das florestas / com a presença do Senhor que vem, pois ele vem para governar a terra: julgará o mundo com justiça, e os povos segundo a sua verdade.”

Salmo 95 

“Foi-me dado todo o poder no céu e na terra: ide, pois, e instruí todas as nações.”

Nosso Senhor Jesus CristoEvangelho de São Mateus 

“Uma coisa é, para o príncipe, servir a Deus na qualidade de indivíduo, e outra fazê-lo na qualidade de príncipe. Como homem, ele o serve vivendo fielmente; como rei, fazendo leis religiosas e sancionando-as com um vigor conveniente. Os reis servem ao Senhor enquanto reis quando fazem por sua causa o que só os reis podem fazer.”

Santo Agostinho, Carta ao Governador Bonifácio 

“É necessário que o fim da multidão humana, que é o mesmo que o do indivíduo, não seja viver segundo a virtude, mas antes, mediante uma vida virtuosa, alcançar a fruição de Deus.”

Santo Tomás de Aquino, De regno 

“[A Igreja tem em seu poder dois gládios (ou espadas)], o gládio espiritual e o gládio temporal. Mas este último deve ser usado para a Igreja, enquanto o primeiro deve ser usado pela Igreja. O espiritual deve ser manejado pela mão do sacerdote; o temporal, pela mão dos reis e dos soldados, mas segundo o império e a tolerância do sacerdote. Um gládio deve estar sob o outro gládio, e a autoridade temporal deve ser submissa ao poder espiritual.”

Bonifácio VIII, Unam Sanctam 

“O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isso, salvar sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para o ajudarem a alcançar o fim para o qual é criado. Donde se segue que o homem há de usar delas na mesma medida em que o ajudem a alcançar seu fim, e que ele há de privar-se delas na mesma medida em que dele o afastem.”

Santo Inácio de Loyola, Exercícios Espirituais 

“Se eu conseguir ganhar um rei, terei feito mais pela causa de Deus do que se tivesse pregado centenas ou milhares de missões. O que um soberano tocado pela graça de Deus pode fazer no interesse da Igreja e das almas, milhares de missões jamais o farão.”

Santo Afonso M. de Ligório, apud P. Berthe, S. Alphonse 

“Para os povos como para os indivíduos, para as sociedades modernas como para as sociedades antigas, para as repúblicas como para as monarquias, não há sob o céu outro nome dado aos homens em que eles possam ser salvos além do nome de Jesus Cristo.”

Cardeal Pie de Poitiers, Discours au Président de la République (1870) 

“O Estado está para a Igreja assim como o corpo está para alma.”

Leão XIII, Immortale Dei 

“Os que no governo dos estados pretendem desconsiderar as leis divinas desviam o poder político de sua própria instituição e da ordem prescrita pela própria natureza.”

Leão XIII, Libertas præstantissimum 

“Na ordem das doutrinas, [o liberalismo] é pecado grave contra a fé [...]. Na ordem dos fatos, é pecado contra os diversos Mandamentos da Lei de Deus e de sua Igreja.”

D. Félix Sardà i Salvany, El liberalismo es pecado 

“Não, a civilização não está por inventar [...]. Ela já existiu, ela existe: é a civilização cristã, a cidade católica. O que falta é instaurá-la e restaurá-la sem cessar sobre seus fundamentos naturais e divinos contra os ataques sempre renascentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade: Omnia instaurare in Christo.”

São Pio X, Notre charge apostolique

 “No juízo final, Jesus Cristo acusará os que o expulsaram da vida pública e, em razão de tal ultraje, aplicará a mais terrível vingança.”

Pio XI, Quas primas 

“Nós percebemos a numerosa classe daqueles que consideram os fundamentos especificamente religiosos da civilização cristã [...] sem valor objetivo [para os dias de hoje], mas que gostariam de conservar o brilho exterior dela para manter de pé uma ordem cívica que não poderia passar sem tal. Corpos sem vida, acometidos de paralisia, são eles mesmos incapazes de opor qualquer coisa às forças subversivas do ateísmo.”

Pio XII, Discurso à União Internacional das Ligas Femininas Católicas 




domingo, 27 de setembro de 2020

DA IDADE DO UNIVERSO, DA TERRA, DOS ANIMAIS, DO HOMEM

 Carlos Nougué

1) A questão da idade do universo é de livre disputa 

a) Argumento de fé. A Comissão Bíblica sob S. Pio X, e com seu endosso, respondeu a esta questão: “Se na denominação e distinção dos seis dias dos quais fala o capítulo 1 do Gênesis se pode tomar o ‘dia’ ou em sentido próprio, como um dia natural, ou em sentido impróprio, como um espaço indeterminado de tempo, e se é lícito discutir livremente sobre essa questão entre os exegetas”, com um “Sim”.

b) Argumento de matéria física conexa com a fé. Na Alocução Un Ora Sobre as Provas da Existência de Deus à Luz da Ciência Natural Moderna, pronunciada numa audiência solene à Academia Pontifícia de Ciências, Pio XII assume a teoria do big bang como a mais provável; mas aceitá-la implica aceitar que a idade do universo seja de bilhões de anos.

c) Meu argumento. De fato, a teoria do big bang parece ser verdadeiramente, hoje, a mais provável quanto ao modo como o universo veio ao tempo, o que implica a aceitação de que tenha sido criado há bilhões de anos. Mas o universo é uma imago Dei, uma imagem de Deus, e, para representar a eternidade divina, parece mais conveniente que o universo tenha tão longa idade do que se tivesse uma curta idade – assim como o fato de que o universo seja imenso é mais conveniente para representar a infinitude de Deus do que se ele fosse menor. 

Objeção. Definiu o Concílio Lateranense IV: “Deus... Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, das espirituais e das corporais, por seu próprio poder onipotente no princípio do tempo criou ao mesmo tempo e desde o princípio todas as criaturas do nada, espirituais e corporais, a saber, anjos e criaturas materiais, e por último o homem, constituído, por assim dizer, tanto de espírito como de corpo”. Logo, parece que os argumentos acima não se seguem.

Solução. Note-se a aparente imprecisão da formulação: criou tudo ao mesmo tempo, mas o homem por último. Logo, “ao mesmo tempo” não quer dizer aqui “simultaneamente” no tempo, mas sim “(criar) da eternidade (que é simultânea)”; o que se reforça pela expressão “desde o princípio”. É que não temos termos para expressar perfeitamente a criação ex nihilo. – Ademais, cada alma humana é criada e infundida junto com cada união prolífica de dois gametas paternos. Assim, Deus não criou ao mesmo tempo todas as almas humanas. – Por fim, terão São Pio X e Pio XII incorrido em desvio da fé? Deve intervir aqui a chamada analogia da fé, segundo a qual o menos claro há de entender-se segundo o mais claro.

2) A questão da idade da terra 

Meu argumento. Por todo o dito quanto à questão anterior, não parece inconveniente que a terra tenha milhões ou bilhões de anos, como, aliás, por diversos indícios, parece ter efetivamente. 

3) A questão da idade dos animais 

Meu argumento. Parece difícil que os animais estejam na terra há muito mais tempo que o homem. Com efeito, vemos correntemente espécies animais extinguir-se (como aliás se extinguiram os dinossauros) ou estar à beira da extinção. Ora, se os animais vivessem aqui há demasiado tempo, é provável que já não existisse a maioria das espécies, ao menos as terrestres. 

4) A questão da idade do homem 

a) Argumento de fé. Embora o magistério nunca se tenha pronunciado formalmente sobre a idade do homem, as Escrituras indicam que está na terra há cerca de sete mil anos.

b) Argumento de razão do Padre Álvaro Calderón (com o qual concordo plenamente). Se existindo há cerca de sete mil anos o homem já fez tudo quanto fez e já ocupou quase toda a terra, imagine-se o que se teria se existisse há, por exemplo, vinte mil anos (para não falar do que se teria se existisse há centenas de milhares de anos...). 

Observação. Os métodos radiométricos de datação são todos de algum modo falhos, como mostrarei num apêndice a meu livro Comentário ao Apocalipse. O menos falho é o de datação por carbono-14. Mas este só tem mais precisão até seis mil anos...



terça-feira, 22 de setembro de 2020

AINDA O SOFISTA OdC


 Carlos Nougué


O sofista OdC nunca diz claramente o que quer dizer, o que é próprio dos gnósticos perenialistas. Algumas coisas, pois, sobre o estrebuchamento seu a meu respeito que se lê no print abaixo.

1) Não é digno de um filósofo tratar a seus adversários por apodos injuriosos e vazios de doutrina. Mas algum, como OdC, o faz. Por isso, deve dizer-se que carece da dignidade do filósofo.

2) Todo filósofo o é justamente porque partindo de certos princípios alcança certas conclusões. Ora, todo o que se diz filósofo mas, como OdC, só admite como conclusivo o perceptível deixa, ipso facto, de fazer filosofia; justamente porque o que é perceptível é evidente, e o evidente não se demonstra, e não há filosofia sem demonstração. Logo, tal nem sequer é filósofo.

3) Só alguém primário de inteligência é capaz de dizer que uma coisa é a necessidade de algo e outra a realidade deste algo. Como sabem todos os principantes em filosofia, o absolutamente necessário é aquilo que sempre foi e nunca deixará de ser. -- Mas pode ser que OdC não creia em tal distinção absurda, e a diga contra mim tão somente como recurso retórico-sofístico-neurolinguístico. É que quase sempre ele atua tão somente para o aplauso de sua pobre e manipulada galeria.

4) Ademais, e por fim, “esquece” fingidamente OdC que eu já provei que sua doutrina sobre Deus é não só nula mas herética: fi-lo em “Defesa da terceira via de Santo Tomás de Aquino” (in Do Papa Herético e outros opúsculos). Só não citei ali seu nome para, digamos, não macular a obra. Mais: no próximo ano sairão minhas Questões Metafísicas, cujo núcleo será justamente “se as cinco vias de S. Tomás permanecem válidas e se necessitam de algum reparo”. Creio que surpreenderão a todos. Mas tenho certeza de que reduzirão a pó a doutrina “metafísica” de OdC, ao pó, aliás, de onde ela nunca deveria ter saído. Mais ainda: escrevê-las-ei outra vez sem citar seu nome...




segunda-feira, 21 de setembro de 2020

MARIA É, SIM, CORREDENTORA DO GÊNERO HUMANO


 Carlos Nougué


Para que se perceba a gravidade de negar a Nossa Senhora o título de Corredentora, veja-se o que dizem, entre outros, alguns dos documentos do magistério autêntico da Igreja sobre isto.

1) Leão XIII, na Encíclica Supremi Apostolalus e na Constituição Ubi primum; e na Encíclica Iucunda semper:  a Virgem SS. foi para Cristo “companheira na redenção do gênero humano”; e “esteve unida ao Filho na custosa expiação do gênero humano”.

2) São Pio X, na Encíclica Ad diem illum: houve “comunhão de dores e de vontade entre Maria e Cristo” para a redenção do gênero humano; e Maria, “chamada a cooperar para a obra de Redenção dos homens, merece ‘de côngruo’, como costumam dizer os teólogos, tudo o que Cristo nos mereceu ‘de condigno’”.

3) Bento XV, em Inter sodalitia: a Virgem “de tal maneira padeceu e morreu com o Filho que padecia e morria, de tal modo abdicou para a salvação dos homens seus direitos maternos sobre o Filho, que se pode dizer com razão que Ela redimiu com Cristo o gênero humano”.

Etc.




sábado, 19 de setembro de 2020

DEUS É TRANSCENDENTE A TODAS AS SÉRIES DE COISAS CRIADAS

 Carlos Nougué

Escreveu Santo Tomás de Aquino: “Há uma primazia que se mantém dentro do mesmo gênero e que se exprime pelo comparativo ou pelo superlativo; outra há que ultrapassa o próprio gênero e que se exprime mercê da partícula super” (Div. nom., c. 4 1. 5; cf. De pot., q. 7, a. 7, ad 2-3; Summa Theol., I, q. 4, a. 3, ad 1). Trata-se, por antonomásia, do caso de Deus, que é o primeiro da série de moventes, de generantes, etc., mas estando além dessas próprias séries: é-lhes de todo transcendente. Por isso mesmo, aliás, é que o mundo poderia ter sido criado desde sempre, sem que isso implicasse  falando propriamente – coeternidade com o criador: porque, com efeito, “Deus é anterior ao mundo em duração. Mas este anterior não designa prioridade de tempo, senão de eternidade” (Tomás de Aquino, Summa Theol., I, q. 46, a. 1, ad 8). Tudo isto se encontra aprofundado em meu “Se se contradiz Santo Tomás ao pôr que não repugna ao intelecto que o mundo tivesse existido desde sempre” (in Do Papa Herético e outros opúsculos).




quinta-feira, 17 de setembro de 2020

RESPOSTA A UMA QUESTÃO METAFÍSICA

 Carlos Nougué

 

Um aluno da Escola Tomista perguntou-me o seguinte:

 

“Ao ler De L’Acte de Lavelle, percebi que ele afirma que o Ser é idêntico ao Ato de Ser próprio que o produz, e que o Ser que está sendo é Ato de Ser. O senhor poderia, por favor, discorrer um pouco sobre se isso cai na ocultação do Ato de Ser listada por Fabro? Pois me surgiu a dúvida de se de fato Lavelle cai nesse problema”.

 

Minha resposta:

 

“Conheço muito bem a obra de Lavelle (traduzi milhares de páginas suas), sobre a qual falarei no ponto da História da Filosofia. Pois bem, embora de modo geral sua obra seja confusíssima, ele, digamos, “quase” acerta aqui. Quanto a Fabro, acerta bem mais, muito mais, mas peca por rigorismo terminológico. Dou-lhe aqui, portanto, em resumo, a metafísica tomista quanto ao ser.

1) A distinção entre essentia (essência) e existentia (existência) é evidente para todos (como diz Fabro, como que se toca com o dedo), mas é só de razão.

2) Por seu lado, a distinção entre essentia e esse vel actus essendi (ser ou ato de ser, termos sinônimos) só é evidente para os sapientíssimos, mas é real (tão real como a distinção entre matéria e forma).

3) Esta última distinção (entre essência e ser ou ato de ser) é a que funda a primeira (entre essência e existência), e nos leva a distinguir, por outro lado, entre o ens per participationem (ente por participação) e o ens per essentiam vel Esse per se (ente por essência ou Ser por si): ou seja, entre as criaturas, que recebem o ser ou ato de ser por participação do Criador, e Deus, que participa às criaturas o ser ou ato de ser ao criá-las.

4) O ser ou ato de ser é a razão própria do objeto da criação divina. Mas atenção: Deus não dá um ‘pedaço de seu ser’ às criaturas (isso seria panteísmo, ou antes panenteísmo), senão que, ao criá-las, cria com elas o chamado esse communis (o ser comum ou geral).

5) Não devemos usar o verbo existir para Deus. Isso é assim porque existir quer dizer ‘provir de, provir de causa ou de causas’. Mas Deus é incausado. Logo, Deus não ‘existe’; Deus é.

Observação 1: no entanto, para principiantes, pode-se usar existir, existência para Deus, enquanto tais principiantes não alcançam a Metafísica – embora eu prefira, quase sempre, não fazê-lo.

Observação 2: Note-se, ademais, que nas criaturas a existência é o ser em ato permitido pelo ato de ser participado por Deus. Em Deus, porém, ser em ato e ato de ser são exatamente o mesmo. E é isso o que Lavelle não consegue alcançar”.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Livros e cursos (atuais e futuros) de Carlos Nougué


UM “PSEUDO”


Carlos Nougué


Um pseudoteólogo e pseudológico olavete quer impugnar o tradicionalismo católico dizendo que o próprio do católico é a obediência e que não somos nosso próprio magistério. Pois bem, esse referido “pseudo” ou não entendeu ou finge que não entendeu o que diz o melhor tradicionalismo, ou seja: que de fato o próprio do católico é ser dócil ao magistério da Igreja, a ponto de só se poder criticar o magistério conciliar porque ele mesmo diz que não é magistério – em outras palavras, porque ele mesmo diz que não fala em pessoa de Cristo. Ele diz que é apenas representante democrático do Povo de Deus, e não seu docente sob a assistência do Espírito Santo, razão por que sua autoridade doutrinal é nula. Por favor, espiões, enviem este texto ao referido “pseudo”. Quem sabe tenha ele a humildade ou a capacidade de entendê-lo? Digam-lhe, ademais, que o que diz contra o tradicionalismo é pura petição de princípio. Mas não é ele gabado por ser um grande lógico?

terça-feira, 8 de setembro de 2020

PIO XII ÀS MULHERES E MENINAS CATÓLICAS



A MELHOR DESCRIÇÃO DA SEITA CONSERVADORA ATUAL E SEUS ALIADOS CATÓLICOS


“Nós percebemos a numerosa classe daqueles que consideram os fundamentos especificamente religiosos da civilização cristã [...] sem valor objetivo [para os dias de hoje], mas que gostariam de conservar o brilho exterior dela para manter de pé uma ordem cívica que não poderia passar sem tal. Corpos sem vida, acometidos de paralisia, são eles mesmos incapazes de opor qualquer coisa às forças subversivas do ateísmo” (Pio XII, Discurso à União Internacional das Ligas Femininas Católicas).

domingo, 6 de setembro de 2020

EM RESPOSTA A UM "TEÓLOGO" CONSERVADOR LILIPUTIANO

Carlos Nougué

Um teologuinho de algibeira e furibundamente antitradicional afirma que é mentira, uma invenção dos tradicionalistas, a história de que o Papa Libério teria excomungado Santo Atanásio -- e que portanto (haja pirueta lógica!) D. Lefebvre foi, sim, justamente excomungado. A este teratológico pensador, deve responder-se assim.
1) O caso de Libério e Atanásio não é invenção tradicionalista. Refere-o o Cardeal Newman (feito já cardeal, insista-se) e outros importantes historiadores católicos.
2) Mas há que conceder ao nosso liliputiano (coisa que este é incapaz de fazer, por defeito de formação lógico-dialética) que em muitíssimos casos históricos não se alcança a certeza. É o que se dá com o episódio em questão, que é negado por outros historiadores.
3) Do mesmo modo, como o mostro no livro Do Papa Herético, é historicamente controversa a condenação do Papa Honório I pelo VI e VII Concílios Ecumênicos por heresia monotelita. Mas, como o mostro no mesmo livro, independentemente de que Honório I tivesse sido ou não monotelita, é incontroverso que o VIII Concílio Ecumênico o condenou por herege, condenação aprovada pelo Papa Adriano II com estas palavras: “Lemos que o Romano Pontífice sempre julgou as cabeças de todas as igrejas; mas não vemos em parte alguma que quem quer que seja o tenha julgado a ele. No entanto, é verdade que Honório, após sua morte, foi vergastado com o anátema pelos orientais. É necessário todavia não esquecer que ele foi acusado de heresia e que este é o único crime que torna legítima a resistência dos inferiores aos superiores, bem como a rejeição de suas perniciosas doutrinas”.
4) Ora, como o mostro ainda no citado livro, isso é o bastante para que aceitemos duas coisas: primeira, que um papa pode incorrer em heresia (enquanto doutor privado); segunda, que nem assim deixa de ser papa ipso facto, porque com efeito nenhum dos três referidos concílios pôs que ele deixara de ser papa por herético.
5) Independentemente, pois, de que Atanásio tenha sido excomungado por Libério ou não, o fato é que os papas podem incorrer em heresia, como doutores privados, e que neste caso é lícito resistir a eles (em Do Papa Herético arrolo multidão de citações do magistério e dos Doutores da Igreja que afirmam tal direito de resistência).
6) Mas o chamado magistério conciliar (ou seja, o do CVII e dos papas que o seguiram), por liberal (ou seja, por não falar in persona Christi e sim in persona populi Dei), reduz-se a magistério privado, razão por que pode, sim, incorrer em heresia.
7) Mais: de fato o fez e segue fazendo, como o mostro ainda no mesmo livro. Ora, como o põe Adriano II, devemos resistir ao papa que incorra em heresia. Logo, D. Lefebvre não foi cismático e foi excomungado iniquamente.

Observação final: gostaria muito de ver o referido teólogo de algibeira escrever um livro que tentasse refutar não só meu Do Papa Herético, mas sobretudo A Candeia Debaixo do Alqueire, do Pe. Álvaro Calderón. Mas para isso ele teria de deixar de ser "teólogo" de Internet para dedicar-se a um sério estudo que começasse pela Lógica e após anos e anos culminasse na Teologia Sagrada. Isso, todavia, supõe disciplina e ascese...

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Ação Católica de Famílias pela Educação

   Inscrevamo-nos todos no canal do Youtube da Ação Católica de Famílias pela Educação. Seu trabalho é imprescindível, e foi para a Ação Católica que fiz a live sobre as 5 Vias de S. Tomás. Muito obrigado.

https://www.youtube.com/channel/UCEGiHP4Qjkwh_CfgxzTUQlw?fbclid=IwAR0Bibvao-3NFcopuZf8dWwSXb-vDaH6yP0WA6PlxQyJuoooPyz3EfwAhh8

As Cinco Vias de Santo Tomás (Carlos Nougué)