Brasil – Terra da Santa Cruz
Proposta de programa por um país
cristão
Carlos Nougué
“Foi-me dado todo o poder no céu e na
terra: ide, pois, e instruí todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos
mandei.”
Nosso Senhor Jesus Cristo
“Um ideal de pátria brasileira sem a fé
católica é um absurdo histórico, tanto como uma impossibilidade política. Num
país que surgiu, cresceu e se desenvolveu à sombra da Cruz, uma democracia
antirreligiosa não pode deixar de ser uma democracia artificial”
Pe. Júlio Maria, C.Ss.R
INTRODUÇÃO
Houve um
tempo em que as nações se regiam pela lei do Evangelho, como dizia Leão XIII, e
isso foi resultado da ação evangelizadora dos apóstolos e discípulos de Cristo.
Obedeceram à ordem dada pelo próprio Mestre. Em outras palavras, as nações eram
cristãs e constituíam, em conjunto, a Cristandade. Então, dentro do possível
neste vale de lágrimas, a humanidade atingiu seu ápice – justo porque estava
sob Cristo Rei, sob o estandarte de sua realeza. Quando as nações não se põem
sob este estandarte, como se viu no outono da Idade Média e no mundo que se
seguiu e se segue à vitória do liberalismo (com todas as suas mazelas de falsa
democracia, de fascismo, de comunismo, de marcusianismo), então se tornam pasto
de demônios e de nossas paixões mais vis.
O Brasil
nasceu sob a Cruz de Cristo, é a terra da Santa Cruz; sua vocação é ser cristão.
E teve um momento especialíssimo, ainda que breve: aquele em que tivemos por
governante a Princesa Isabel, destronada pelo poder golpista republicano. Ela
pretendia fazer do Brasil uma nação social-cristã nos moldes do proposto por
Leão XIII em suas grandes encíclicas. Por isso mesmo, aliás, é que decretou o
fim da escravatura. Mas desde sua queda o Brasil veio progressivamente
secularizando-se. Hoje vivemos o fim deste processo dramático, com todo o seu
cortejo de injustiças, imoralidades, crimes, perdição da juventude, imbecilidade
e feiura máximas, etc. Mas em verdade o Brasil acompanha o mundo nessa queda para
o abismo. Poucas nações hoje se reivindicam cristãs: a Polônia, a Hungria. Há
que perguntar, portanto, se nesta situação ainda é possível que nosso país
volte a dizer-se, propriamente, Terra da Santa Cruz.
Antes de
tudo, naturalmente, como os católicos não somos revolucionários, dependerá de
que a maioria do povo o queira – por adesão à fé ou por simpatia por suas
consequências sociopolíticas. Mas, depois, defender a realeza de Cristo e
procurar que se aplique às nações é parte da confissão de fé de todo católico,
razão por que devemos fazê-lo “com esperança contra a esperança mesma”, como
dizia o Cardeal Pie de Poitiers (o inspirador do lema do pontificado de São Pio
X: “instaurar tudo em Cristo”). Deus não nos pede que vençamos o bom combate,
mas que o combatamos – sempre.
Ademais, por fim, ainda que Deus não queira que o vençamos agora – seus
desígnios sempre se ordenam ao conjunto da história e sua consumação na Parusia
–, não podemos os católicos aparecer diante da nação como apêndice de nenhuma
outra corrente política. Devemos aparecer com face e identidade próprias.
Por tudo
isso é que apresentamos, aqui, esta proposta de programa por um Brasil cristão.
Oferecemo-la, naturalmente, a todos os católicos e a todas as pessoas de boa
vontade. Mas antes de tudo a oferecemos à Liga Cristo Rei e seus centros e
institutos e parlamentares, e a todos os demais que já entendem a necessidade
de que nosso país – e todo o mundo – se ponha sob Cristo. Não entraremos, aqui,
na questão do melhor regime político; apenas arrolamos os pontos que nos
parecem essenciais para que qualquer regime possa dizer-se cristão (cf.
observação 2, abaixo).
Observação 1: não por acaso esta proposta
de programa se apresenta neste portal. Este portal é lugar apropriado para tal,
e foi elaborado pelo Centro Anchieta (de Vitória, ES) para divulgar todos os
dias artigos, vídeos, livros, etc., que defendam justamente a realeza de Cristo
(sem acepção, em princípio, de correntes ou grupos ou pessoas).
Observação 2: como se verá, nossa
proposta de programa arrola os referidos pontos essenciais, mas de modo
adaptado às possibilidades mínimas atuais.
PROPOSTA DE PROGRAMA POR UM BRASIL
CRISTÃO
I –
A Constituição
1) Como
preâmbulo de nossa Constituição, hão de estar os Dez Mandamentos e a tripla
virtude teologal da Fé, da Esperança e da Caridade, além da afirmação
peremptória de que nosso país se põe sob Cristo Rei e sua Mãe, Nossa Senhora de
Aparecida – assim como a Polônia se pôs de algum modo sob Cristo Rei, e assim
como a Hungria se pôs constitucionalmente sob a Coroa de Santo Estêvão.
2) Nossa
Constituição deve ser o mais simples possível, fundada em seu preâmbulo e
despida de emendas e subemendas que – como se dá, com efeito, com a atual – não
só muitas vezes se contradizem, mas a tornam em conjunto impraticável.
Observação: vê-se já por aí a necessidade
de que a maioria do povo adira a este programa. Sem isso, faz-se impossível
qualquer mudança constitucional mais profunda.
II – Educação
1) A
educação cristã deve ser global: filosófica ou científica, histórica,
artística, moral e religiosa.
a) Deve-se
ensinar a grande tradição filosófica e teológica clássica a alunos já desde os
14 anos, com complexificação gradativa.
b) Devem-se
ensinar as chamadas ciências modernas pelo prisma dos princípios dessa
tradição.
Observação: deve-se combater a nefasta
doutrina de que o homem descende do macaco ou de qualquer ancestral comum a
ele. Nenhum animal tem potência para tornar-se intelectual ou espiritual. Fomos
feitos – varão e mulher – do barro da terra, mas à imagem e semelhança de Deus
c) Deve-se coibir
o ensino da história pelo prisma revolucionário.
d) Deve-se
ensinar normativamente a gramática de nossa língua materna – a chamada “língua
culta” –, combatendo qualquer doutrina que implique seu abastardamento ou
debilitamento sob pretexto de opor-se a preconceitos linguísticos.
e) Deve-se
ensinar e estimular a verdadeira arte do belo, e combater a “arte do feio” que
se veio introduzindo pouco a pouco no mundo.
Um governo cristão deve propiciar aos verdadeiros artistas condições
para que exerçam sua arte e estimular o surgimento de novos, em particular
entre as camadas mais carentes: é de lembrar o trabalho dos jesuítas que, desde
o descobrimento do Brasil, foi transformando índios e escravos em grandes
artistas.
Observação: um governo católico deve
combater tenazmente, sobretudo pela educação mas, se necessário, também
politicamente, toda forma de “arte” imoral ou que induza ao uso de drogas,
etc.
f) Do mesmo
modo, cabe a um governo cristão propiciar condições o mais excelentes possível
para o desenvolvimento de tecnologia nacional.
g) O ensino
da moral deve fundar-se nos Dez Mandamentos e na lei da Caridade, o que vai de
par com o ensino da Religião e da História Sagrada.
Observação: pela situação atual do país e
do mundo, não se pode impor com exclusividade o ensino da religião católica.
Mas um governo católico se dará o direito de favorecer de todas as maneiras as
escolas católicas.
h) Deve-se coibir
severamente o ensino da ideologia de gênero e de toda doutrina revolucionária,
isto é, que defenda a luta de classes e a derrubada do governo por qualquer
meio violento.
i) Quanto à
educação sexual, deve caber antes aos pais.
2) O ensino
deve ser oferecido universalmente e ser gratuito para os necessitados; mas não
deve ser obrigatório. O acesso ao ensino em todos os níveis deve dar-se por
mérito. A massificação do ensino, quando obrigatório, tem por consequência inevitável
seu nivelamento por baixo.
3) Deve-se
estimular a multiplicação de escolas para formar artesãos e operários
especializados.
Observação: não se trata, em nenhum
desses casos, de ensino estatal, conquanto o governo cristão possa participar
subsidiariamente do ensino, a fim de suprir lacunas não preenchidas pelas
iniciativas particulares.
4) Um
governo católico deverá ter canais radiotelevisivos próprios ou que o apoiem,
não para fazer propaganda de si, mas para divulgar a boa arte (música clássica,
o melhor cinema, etc.), para apresentar programas científicos e documentários
não anticristãos, para propiciar ao povo noticiários verazes, etc.
III – Modo de governar
1) Um
governo cristão, independentemente da forma de regime que se adote, deve
governar apoiado nos chamados “corpos intermediários”, ou seja, organizações
espontâneas da própria sociedade.
a) Antes de
tudo, a família, a célula-mãe de toda a sociedade, e cujos poderes e direitos
são invioláveis. Entre esses poderes, está o dos pais – varão e mulher – de
ensinar a seus filhos como bem entenderem.
b) Daí a
importância de que os homeschoolers se organizem em associações que atuem em
harmonia com o governo.
c) Os
sindicatos devem orientar-se pelo dito por Leão XIII em sua encíclica Rerum novarum, ou seja, deixar de ser
instrumentos de luta de classes sem deixar, porém, de fazer-se ouvir pelo
governo em caso de impasses com os patrões.
d) Vale o
mesmo, mutatis mutandis, para os
sindicatos patronais.
e) No caso
porém das médias e pequenas empresas, deve-se estimular a formação de
sindicatos mistos de patrões e empregados.
f) Devem
voltar a existir as corporações de artistas, de artesãos e de operários
manufatureiros, as quais, enquanto existiram, propiciaram aos trabalhadores sua
época áurea.
g) É também
de grande importância que os filósofos ou cientistas, os juristas, os
professores, etc., se constituam em associações de modo que se façam ouvir
permanentemente pelo governo.
h) Convém
ainda que se crie uma sorte de conselho de todas as organizações espontâneas da
sociedade que se reúna periodicamente com o governo.
2) Governar
cristãmente com os corpos intermediários da sociedade não implica fazer deles
apêndices do governo: isso é próprio do fascismo e do comunismo. Ao contrário,
implica que esses mesmos corpos sirvam para impedir quaisquer exorbitações do
poder central.
3) Um
governo cristão deve reduzir o aparato burocrático estatal ao mínimo possível.
4) O governante cristão,
para sê-lo
com eficiência máxima, deve ter qualidades muito precisas.
a) Antes de tudo, deve ter a fé e seguir
estritamente a tradição e o magistério infalível da Igreja. Com efeito, toda
autoridade, para sê-lo perfeitamente, tem de fundar-se na verdade; se não o
faz, deixa de ser autoridade em sentido integral. Mas a verdade por excelência
é a que nos dá a fé e a tradição e o magistério infalível da Igreja. A
conclusão impõe-se.
b) Depois, não ser um revolucionário, mas um
reformista: ou antes, um batizador das estruturas sociopolíticas batizáveis.
Até porque, como dito, ele não terá chegado ao poder por uma revolução, mas
graças ao majoritário querer do povo. Tudo isso implica a virtude da prudência
sustentada e aperfeiçoada pela graça.
c) Depois, ter desenvolvida em grau sumo a virtude
da fortaleza, a que se contrapõem os dois vícios opostos da covardia e da
temeridade. Outra vez, é a graça a que a sustenta e aperfeiçoa.
d) Depois, deve prezar maximamente o bem comum,
ou seja, o bem-estar dos cidadãos em geral, sua formação para a virtude, sua
preparação para a fé – e a paz social. Mas, para manter a paz social, como
dizia Leão XIII, em certa medida é preciso tolerar alguns males, sem o que
advirão males ainda maiores. Por outro lado, deve ser sumamente duro com os
males que se podem extirpar e que impedem a mesma paz social. Intervém aqui,
outra vez, a virtude da prudência aprimorada pela graça.
e) Depois, deve ser solícito, generoso,
magnânimo com todas as camadas da população. Um exemplo máximo disto foi o Rei
São Luís, que costumava conversar sob uma árvore com pessoas de todos os níveis
sociais e ouvir-lhes as queixas e os reclamos.
f) Depois, como dito também, deve respeitar os
corpos intermediários (famílias, associações, corporações de trabalhadores,
grupos de homeschoolers, etc.) e buscar governar com seu apoio, sem arvorar-se
em déspota ilustrado, nem em populista apoiado em massas amorfas.
g) Por fim, deve ser o mais sábio possível, ou
seja, conhecer em algum grau os vários ramos da sabedoria, além de estimular a
autêntica arte do belo (ou seja, a arte de fazer propender ao bem e à verdade)
e dominar a retórica (ou seja, a arte de pelo verossímil fazer suspeitar a
verdade e o justo). São os dois primeiros e incontornáveis degraus de fazer o
povo ascender à virtude.
Já tivemos algum governante assim? Sim: a
Princesa Isabel.