Carlos Nougué
I) Termos usados por Santo Tomás de Aquino que não
se devem traduzir por não terem equivalente preciso nas línguas modernas.
1) Hoc aliquid (= grego
aristotélico tóde tí): este algo, esta
substância (= ousía) primeira.
2) Per sē: se tiver o sentido de por
si (mesmo), traduza-se; se não, ou seja, se tiver o sentido de ‘por
essência’ ou ‘essencialmente’, mantenha-se a expressão latina. Opõe-se, neste segundo sentido, a per
accidens.
3) Per accidens: não essencialmente, ou
seja, acidentalmente (mas veja-se que esta palavra portuguesa é aqui ambígua,
porque, com efeito, não se trata de acidente ou de acidental nos sentidos mais usuais em
nosso idioma).
4) Simpliciter: pura e simplesmente, em
termos absolutos. Opõe-se a secundum quid.
5) Secundum quid: por certo aspecto,
segundo algo.
6) Predicar in quid: predicar na
quididade, essencialmente.
7) Predicar in quale: predicar
adjetivamente e contingentemente.
8) Predicar in quale quid: predicar
adjetivamente mas necessaria-mente.
9) Questão an sit: questão ‘se é’ (com
respeito a Deus) ou ‘se existe’ (com respeito a qualquer criatura ou a qualquer disciplina intelectual). – Poderia traduzir-se, mas deve combinar com as questões seguintes.
10) Questão quid sit: questão ‘o que
é’, qual a quididade (de dada coisa).
11) Questão quia: questão sobre dada
propriedade, ou seja, se per-tence de fato a dada substância ou sujeito.
12) Questão propter quid: questão sobre
a causa, sobre o porquê de dada coisa, mais especialmente sobre o porquê de determinada proprie-dade pertencer a dada substância ou sujeito.
13) Demonstração propter quid: demonstração
pela causa.
14) Demonstração quia: demonstração da
existência (ou do ser) de algo por seu efeito (como as cinco vias tomistas para demonstrar
que Deus é).
15) In rērum nātūrae: na natureza, na
natureza das coisas, nas ou entre as coisas da natureza.
15) In rē: na coisa, na realidade.
17) Secundum ratiōnem: segundo a razão
ou noção da própria coisa; ou segundo a razão humana.
18) Polītīa: o terceiro dos regimes
políticos admissíveis (aquele em que governa uma maioria), e cuja corrupção é a
democracia (mas S. Tomás às vezes usa dēmocratia em lugar de polītīa).
19) Habitus, que pode traduzir-se por
hábito, tem, no entanto, o sentido preciso de capacidade intelectual ou de propensão moral entre a potência e o ato. Ou seja, se se traduz por hábito, que se explique em
nota. -- E, sim, pode ser adquirido (o hábito da música ou da física, por
exemplo) ou infuso (a fé teologal, por exemplo); e pode ser virtuoso ou vicioso.
20) Quod quid erat esse (tradução literal do grego aristotélico τò τί ἦν εἶναι): essência ou quididade.
20) Quod quid erat esse (tradução literal do grego aristotélico τò τί ἦν εἶναι): essência ou quididade.
II) Termos que se devem sempre traduzir como
abaixo:
1) Ens, entis: ente (nunca “ser”).
2) Esse: ser (nunca “existir” nem
“existência”; mas, quando se con-juga, pode traduzir-se por ‘existe, etc., ou há’, se não se trata de Deus; de Deus deve dizer-se: ‘Deus é’,
não “existe”). Também pode, todavia, sig-nificar (e traduzir-se por) “estar”.
3) Existentia, existere:
existência, existir.
4) Actus essendī: ato de ser.
5) Quidditas: quididade (é o mesmo que
essência, mas difere des-ta secundum ratiōnem).
6) Essentia: essência.
7) Dēfectus: defeito (no sentido
técnico de ‘falto de’).
8) Ostendēre: mostrar.
9) Probāre: provar.
10) Dēmonstrāre: demonstrar.